Dave Matthews Band - Big Whiskey and the GrooGrux King (2009)


Por Paulo Camargo
Jornalista
Cotação: ****

O mês de agosto do ano passado foi trágico para a Dave Matthews Band. Um de seus integrantes (e fundadores), o saxofonista LeRoi Moore, morreu aos 46 anos em decorrência de ferimentos sofridos num acidente de carro na sua fazenda, no estado da Virginia, nos Estados Unidos. Como era um sujeito de poucas palavras, que evitava entrevistas e interação com o público, sabia-se muito pouco sobre o músico, a não ser que tinha um grande talento e era irremediavelmente fechado. Para Dave Matthews, no entanto, Moore era muito mais do que isso.

O vocalista, compositor e instrumentista sul-africano que dá nome à banda adorava o saxofonista. Tanto que a elaborada capa do excelente
Big Whiskey and the GrooGrux King, totalmente desenhada por Matthews, traz ao centro um retrato de Moore como uma cabeça gigante e coroada, típica de um carro alegórico do Mardi Gras, carnaval da cidade de Nova Orleans.

E, logo na primeira faixa, a instrumental “Grux”, há uma tocante homenagem ao músico: ouve-se o rasgante do sax alto de Moore, emoldurado pela bateria forte e pulsante de Carter Beauford e pelo baixo inconfundível de Stefan Lessard – vale dizer aqui que o instrumentista morreu antes que boa parte do disco fosse finalizada, mas deixou várias participações gravadas, algumas não-identificadas ou creditadas. “Grux” marca o início de um trabalho que muitos críticos americanos tem chamado de o melhor álbum da Dave Matthews Band.

Não à toa,
Big Whiskey and the GrooGrux King, quinto disco da banda a estrear em primeiro lugar na parada da revista Billboard, vendeu mais de 400 mil cópias apenas na primeira semana de lançamento.

A presença de LeRoi Moore, quando não é concreta, por meio da sonoridade do seu instrumento, permeia o álbum. Espiritualmente até. Na faixa “Why I Am”, por exemplo, Matthews canta que “
ainda está aqui dançando com o rei GrooGrux”, em referência ao personagem encarnado pelo saxofonista na capa e no encarte do CD.

LeRoi (que em francês quer dizer “o rei”) surge de novo em referências mais sutis, como “
o último suspiro do soldado” em “Funny the Way It Is”, primeiro e contagiante single do disco. A perda do amigo e parceiro também se faz presente na introspectiva “Spaceman”, triste sem ser depressiva: “Todo mundo não merece ter uma vida boa? / Mas nem sempre isso dá certo”.

“Squirm”, por sua vez, mergulha ainda mais num certo fatalismo que até certo ponto contradiz o tom festivo do projeto gráfico do álbum. “Lá fora, nenhuma comida, nada para beber / Quantos dias você acha que iria durar?”, diz a letra, para, em seus versos finais, arrematar: “se bondade é seu rei, então o céu será seu antes que você encontre seu fim”.

Mas o fantasma de Moore sabe quando dar uma trégua à sua banda. Sobretudo quando o disco assume um tom mais romântico, explicitamente sexual até, como nas suingadas faixas ‘’Shake Me Like a Monkey’’ e ‘’Seven’’, ou intimista, nas canções ‘’You and Me’’ e ‘’My Baby Blue’’. Nesses momentos percebe-se que Matthews, embora deixe clara a extensão de sua perda, quer celebrar a vida, mesmo diante da morte.


Faixas:
1 Grux 1:11
2 Shake Me Like a Monkey 4:00
3 Funny the Way It Is 4:26
4 Lying in the Hands of God 5:13
5 Why I Am 3:53
6 Dive In 4:26
7 Spaceman 4:08
8 Squirm 5:32
9 Alligator Pie (Cockadile) 3:59
10 Seven 4:17
11 Time Bomb 3:59
12 My Baby Blue 3:41
13 You and Me 5:40

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