Beatles, a prova dos nove


Por Luís Bissigo
Jornalista

Conseguirão os Beatles repetir neste 09 de setembro de 2009 o que fizeram tantas vezes na década de 1960: parar o mundo pop ao lançar um novo produto?

Serão na verdade dois novos itens a atiçar ouvidos - e esvaziar bolsos - dos fãs. A coleção completa dos álbuns da banda em versão remasterizada e o jogo Rock Band, dedicado ao repertório do quarteto, chegam oficialmente às lojas no dia de hoje.

O 09/09/09 em que os Beatles voltam às prateleiras e às manchetes foi anunciado ainda no primeiro semestre, a tempo de fazer fermentar a expectativa de antigos e novos admiradores. Poderá vir a gerar uma nova onde de Beatlemania, como ocorreu nos últimos 14 anos, em diferentes graus, com lançamentos como a série Anthology (1995 e 1996), a coletânea 1 (2000) e o álbum de remixes e colagens Love (2006) - além de filmes como I Am Sam (Uma Lição de Amor no Brasil - 2001) e Across the Universe (2007), nos quais a trilha sonora Beatle tem papel decisivo.

Um termômetro é o site de vendas da Amazon, no qual as caixas com a obra de banda remasterizada tiveram a pré-venda esgotada na semana passada - a página não informa o número de itens vendidos, apenas que se tratava de uma edição limitada e que haverá mais caixas à venda em breve.

Amostras de áudio disponíveis na própria loja virtual ajudam a explicar. As novas edições dos discos de estúdio do grupo realmente têm som mais limpo, mais claro e mais alto que o dos CDs dos Beatles disponíveis no mercado, feitos ainda com tecnologia de 1987. Não que os novos fonogramas cheguem ao ponto de dar ao ouvinte a sensação de estar dentro da sala de gravação, ouvindo as reverberações dos alto-falantes e ds tambores, mas trazem o som dos Beatles para bem mais perto dos padrões de áudio do século 21.

Para fãs trintões - ou sessentões - que já passaram por LPs pipocados e fitas-cassete abafadas, nas quais o som correspondia a uma imagem distante vista por uma luneta invertida, a experiência promete ser, no mínimo, emocionante. Entre os adolescentes de ouvidos já educados em linguagem MP3, a vantagem poderá ser menor - pelo menos, não terão que aumentar o volume quando o player selecionar uma faixa Beatle logo depois de um McFly ou um Kaiser Chiefs.


Para os mais jovens, o impacto maior da nova onda Beatle deverá ser causado pelo jogo Rock Band, dedicado exclusivamente ao quarteto. Será a porta virtual para quem quiser entrar na história dos Beatles e brincar de guitarrista, baixista, baterista e até cantor - uma das inovações do game é a possibilidade de interpretar as harmonias das canções originais. Para os mais dedicados, haverá até controles em forma de instrumentos idênticos aos que os Fab Four usavam nos anos 60.

Tudo isso certamente fará sucesso, mas provavelmente sem o mesmo impacto comercial e cultural dos tempos em que John Lennon (1940-1980), Paul McCartney, George Harrison (1943-2001) e Ringo Starr se tornaram, juntos, a maior banda da história do rock. Passados 39 anos do fim dos Beatles, já quase não há artistas de alcance tão global, e comprar discos já não é a única maneira de se consumir música. Mas, mais uma vez, a tecnologia vai ajudar a trazer à tona o que realmente importa nessa história: a beleza das melodias, a singeleza dos vocais, a inventividade dos arranjos e a maestria das composições daqueles quatro caras de Liverpool. E nisso eles permanecem insuperáveis.


Porque 09/09/09?

O dia escolhido para o lançamento é uma aposta no caráter místico da data e uma provável referência aos versos de "Revolution 9", faixa do White Album, de 1968.

Por que remasterizar?

A restauração digital do som das fitas originais é o grande trunfo da nova edição dos álbuns dos Beatles. O áudio foi processado por meio do programa Pro Tools, eliminando eventuais estalos, chiados e ruídos de edição. Seria um passo adiante em relação aos CDs anteriores, produzidos com tecnologia do final dos anos 1980. O engenheiro de áudio Marcos Abreu explica: "A diferença será bem clara em termos de graves e agudos, mas sem exageros. Esse processo torna mais claro e mais limpo o som dos instrumentos".

Segundo a gravadora EMI, o processo de remasterização dos álbuns levou quatro anos. Uma das partes mais demoradas do trabalho, por exemplo, foi transferir o conteúdo das fitas analógicas para o meio digital. Depois de reproduzida cada faixa, o equipamento era limpo para remover eventuais resíduos de poeira deixados pela fita durante a execução. Tudo isso foi feito no lendário estúdio Abbey Road, em Londres.

Alguns LPs dos Beatles foram lançados em mono, ou seja, com o áudio distribuído em um canal único. Outros, só em estéreo, com o som espalhado em dois ou mais canais. A maioria, no entanto, saiu nas duas opções. Para contemplar tudo isso na nova edição em CD, uma caixa vai reunir versões em mono dos discos anteriores a Yellow Submarine.

Há quem diga que os álbuns iniciais soam melhores em mono, e outros preferem esse formato por considerá-lo mais fiel à sonoridade original do quarteto. Também há quem goste dos efeitos proporcionados pelo estéreo - na música "Sgt Pepper´s Lonely Hearts Club Band", por exemplo, a voz começa no canal direito e, no refrão, surge no esquerdo.

No livro Antologia, Ringo faz piada sobre o dilema mono/estéreo: "George Martin ficou surdo de um ouvido, agora ele só trabalha em mono".

O pacotão de 09/09/09 certamente não será o último. Ainda não há, por exemplo, uma data definida para as músicas da banda serem lançadas oficialmente no mercado virtual. Marcos Abreu aponta que ainda estão por vir outras ondas tecbológicas, como o SACD - Super Audio CD, ou mesmo em pen drives ou cartões de memória.

Será inevitável que os CDs novos sejam convertidos em MP3 para abastecer iPods e celulares. O volume dos novos arquivos deverá ser mais alto que o dos atuais, normalmente mais baixo que o de discos produzidos nos dias de hoje. Mas muito do som pode se perder. "O MP3 perde conteúdo harmônico. Um arquivo de MP3 tem quase 90% menos dados do que o arquivo do CD normal, é um som oco", explica Abreu.

O jogo


Muitos reivindicaram, ao longo dos anos, o título de Quinto Beatle. Agora, todos poderão ser os quatro Beatles - ao menos na tela da TV ou do computador, jogando The Beatles: Rock Band. O game terá 45 músicas da banda, entre elas "Hello Goodbye", "Helter Skelter" e "Here Comes the Sun".

Como na versão normal do Rock Band, o desafio do jogo é acompanhar com precisão as linhas de baixo, guitarra e bateria para somar pontos e avançar na carreira. Neste caso, o jogador se propõe a passar do porão do Cavern Club para os holofotes do Ed Sullivan Show e para o topo do prédio da Apple - para citar três cenários importantes da história Beatle reproduzidos com fidelidade na tela.


Uma novidade do beatlegame é a chance de reproduzir as belas harmonias vocais dos Beatles por meio de microfones. O fetiche são os controles em forma de instrumentos - a bateria Ludwig de Ringo, o baixo Hofner em forma de violino de Paul, a guitarra Gretsch de George e a Rickenbacker de John. O disco Abbey Road em breve será disponibilizado para o jogo via download.

Dois herdeiros do clã Beatle foram decisivos para a concretização do game. Fã de Guitar Hero, Dhani Harrison, filho de George, foi quem deu a idéia para a MTV Music Group, dona da Harmonix, empresa que desenvolveu o Rock Band original, e também ajudou a convencer outros envolvidos, como Paul, Ringo e Yoko Ono, viúva de John. Quem cuidou da parte sonora foi Giles Martin, filho do produtor George Martin, com quem produziu o álbum Love, trilha sonora do espetáculo homônimo do Cirque du Soleil.


O que chega às lojas no dia 09 de setembro de 2009?

São 14 álbuns. Cada disco (exceto o Past Masters) inclui uma faixa de vídeo com um mini documentário sobre a produção do álbum, com depoimentos dos próprios Beatles e imagens raras. Há também livretos com novos textos informativos. Preço médio de cada CD: R$ 35 (R$ 50 os duplos).

A coleção também está à venda em uma caixa com todos os CDs e um DVD reunindo os mini documentários. O preço médio no Brasil será de R$ 800 (a caixa é importada), com chegada prevista para o dia 02 de outubro. Há ainda uma caixa com edições em mono dos discos anteriores a Yellow Submarine. O preço médio é de R$ 950 e a caixa deve chegar ao Brasil simultaneamente à em estéreo.

Já o game The Beatles: Rock Band está disponível para XBox 360, PlayStation 3 e Nintendo Wii. O jogo custa em média R$ 250 nas lojas brasileiras e US$ 60 no site da Amazon, excluindo impostos e taxas. Pacotes de R$ 2 mil (US$ 250 na Amazon) incluem bateria, baixo e microfone para jogar. As guitarras são compradas separadamente, a R$ 800 (US$ 100) cada.


E tem mais vindo por aí

Na onda Beatle, livros e jogos de tabuleiro estão à venda:

The Beatles: Gravações Comentadas e Discografia Completa - Livro da Larousse em formaro de CD (496 páginas, R$ 60), conta tudo sobre os álbuns da banda;

The Beatles: A História por Trás de Todas as Canções - A obra do jornalista inglês Steve Turner disseca a origem das composições de John, Paul, George e Ringo. Lançamento previsto para novembro, pela editora CosacNaify;

Monopoly: The Beatles - O conhecido jogo de tabuleiro (Banco Imobiliário, para nós brasileiros) ganha versão Beatle na qual a ordem é comprar e vender discos. Ainda sem previsão de chegada ao Brasil.

Comentários

  1. O mercado, as vendas, os fãs, os mesmos discos, a remasterização de álbuns, o dinheiro...Ah, sim...O dinheiro...

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  2. E agora os chineses para falsificar e faturar também... O box mais falsificado do mundo é esse e o mono...Desculpem são replicas! Rs....

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