1965: o auge da Invasão Britânica e a eletrificação do folk rock


Por Vitor Bemvindo
Colecionador e Historiador

Essa semana o Mofodeu estreou uma nova série: o Anuário Mofodeu. O objetivo desses programas será analisar a evolução do rock ano a ano. Uma vez por mês faremos a limpa em um ano da história do rock, contando os fatos mais importantes e trazendo algumas faixas lançadas neste determinado ano. Como colaborador da Collector´s Room, trarei sempre um artigo fazendo uma análise do ano determinado no rock.

Começamos com o ano de 1965. Para que não costuma ouvir o Mofodeu, talvez não saiba que 90% das canções que executamos no programa estão no recorte entre 1965 e 1975. Por quê? Por vários motivos. O principal deles é por conta do gosto pessoal dos produtores e apresentadores do programa. Quando surgiu a proposta do programa, limitamos o recorte temporal até o ano de 1979, mas quase sempre ficamos com discos e músicas produzidas no período citado.

1965 foi escolhido como marco inicial por conta do simbolismo dos fatos ocorridos naquela época e, em especial, por preceder um momento em que o rock encontrou-se com o experimentalismo extremo, em fins da década de 1960. Em meados daquela década o rock ainda tinha as características ingênuas dos seus primeiros anos mas, ao mesmo tempo, começava a se tornar mais político. Isso aconteceu por conta de estarem despontando, naquele momento, dois movimentos bem distintos: o folk rock e a invasão das bandas britânicas nos Estados Unidos.

Enquanto o folk rock encontrava seu auge com canções políticas entoadas por nomes como Bob Dylan e Joan Baez, acontecia, concomitantemente, um movimento que se reencontrava com as origens do rock, capitaneado por bandas inglesas como os Beatles e os Rolling Stones. O folk rock não era mais uma novidade pois, desde o começo da década, já havia um forte movimento do estilo. Naquele ano, no entanto, o subgênero começava a se transformar principalmente por conta do envolvimento de Bob Dylan com diversas bandas de rock and roll.

Naquele ano, Dylan lançaria seu primeiro álbum inteiramente gravado com o acompanhamento de uma banda de rock, Highway 61 Revisited. Anteriormente, predominavam no trabalho do cantor as canções acústicas, sendo a maioria delas executadas apenas com voz e violão. Aquilo seria uma verdadeira revolução para o folk rock, já que além de ter sido bem aceito entre os admiradores do gênero, ampliou sua popularidade, conseguindo conquistar fãs de rock and roll clássico.

Highway 61 Revisited, o álbum que eletrificou o folk rock

O lançamento de "Like a Rolling Stone", que viria ser a faixa de abertura do disco citado, é considerado por muitos como um divisor de águas na carreira de Dylan, aproximando-o definitivamente aos artistas do rock.

Algo que ajudou muito no aumento de popularidade de Bob Dylan foi o fato de algumas bandas lançarem suas canções com algum sucesso. Em 1965 os Byrds estouraram com uma composição de Dylan, "Mr Tamborine Man".

As músicas de protesto também ganharam bastante espaço, graças, principalmente, à escalada da Guerra do Vietnã, que cada vez era mais impopular entre os norte-americanos. O aumento das tropas ianques no país do sudeste da Ásia encontrou como principal opositor no meio artístico Barry McGuirre, que lançou "Eye of Destruction".

Por outro lado, a Beatlemania atingia o seu auge. Os Beatles foram responsáveis pelo boom das bandas britânicas nos Estados Unidos, graças a sua ida ao país em 1964. Um ano depois, o sucesso da banda ajudou uma série de outros artistas a se consolidarem na América. Foi o caso de grupos como Rolling Stones, The Who, Yardbirds, Animals, entre muitas outras.

O quarteto de Liverpool, por sua vez, começava a mostrar que estava a frente de seu tempo, diferenciando o seu som das demais bandas com o lançamento de Help! (o álbum e o filme) e, principalmente, de Rubber Soul. Além do crescimento musical, houve também um crescimento nas cifras que envolviam o grupo. Os shows eram cada vez mais caros e as vendas dos singles alcançavam níveis nunca antes experimentados. Durante quase todo o ano eles mantiveram no mínimo três canções entre as mais tocadas, segundo a Billboard, sendo "I Feel Fine" a faixa mais executada naquele ano. O sucesso dos Beatles era tamanho que a Rainha os nomeou Membros do Império Britânico.

Beatles nomeados Membros do Império Britânico

Os Rolling Stones também consolidaram sua carreira internacional em 1965, por conta de uma turnê mundial (que incluiu até mesmo a Austrália) e do sucesso de seu primeiro álbum lançado nos Estados Unidos, que chegou às lojas um ano antes. Os compactos de "(I Can't Get No) Satisfaction" e "Get Out of My Cloud" foram muito vendidos em diversas partes do planeta, mostrando a força dos meninos maus que "combateriam os Beatles".

A carreira de polêmicas envolvendo os Stones começava a crescer também. Jagger, Richards e Wyman foram condenados a pagar uma multa por terem urinado em uma parede de um posto de gasolina, em Londres. Além disso, as arruaças, durante as turnês, em hotéis e bastidores, passam a ser marca registrada do grupo.

Capa do compacto "My Generation", do The Who

O Who foi outra banda que se deu bem ao pegar carona na onda de Invasão Britânica, graças às suas performances destruidoras e o evidente talento. O sucesso de "My Generation" e "I Can't Explain" ultrapassou a fronteira da Grã-Bretanha, trazendo a banda para o patamar dos grandes grupos.

Outras bandas inglesas como The Animals, The Yardbirds, The Kinks e Manfred Mann também conseguiram atingir o sucesso com alguns singles tanto na Grã-Bretanha quanto nos Estados Unidos, mas nada comparado ao êxito de Beatles e Stones.

Além do folk rock e da Invasão Britânica, alguns grupos fora desses universos começavam a firmar seus passos, fugindo um pouco do trivial. É o caso, por exemplo, dos americanos da The Paul Butterfield Blues Band, que com seu ecletismo que mesclava o rock ao blues alcançou sucesso de crítica e público com o seu excelente álbum de estreia. O grupo capitaneado por Butterfield foi responsável pela quebra de alguns preconceitos, pois introduzia um vocalista branco, ajudando na disseminação do blues rock, antes restrito aos guetos. O blues rock demonstrava sua força também na Inglaterra, graças a bons trabalhos de nomes como Yardbirds e The Pretty Things.

Outros norte-americanos que alcançaram sucesso foram os Mamas & The Papas, que lançaram o compacto de "California Dreamin'" naquele ano. A faixa entraria no primeiro álbum do grupo, lançado no ano seguinte, mas já em 1965 a canção começava a ganhar status de hino de uma geração. Com o fortalecimento do flower power, a partir de 1967, a música voltou a ser sucesso, mas isso é assunto para o próximo artigo.

"California Dreamin'" foi um dos maiores sucessos de 1965

Para ouvir alguns sucessos e canções esquecidas lançadas em 1965, ouça o Mofodeu#071, o primeiro da série
Anuário. Para ouvir, basta acessar o site www.mofodeu.com

Comentários