AC/DC além do óbvio


Por Vitor Bemvindo
Colecionador e Historiador

Na era da informação, da internet e da música digital, é cada vez mais difícil falar em raridades. Com poucos cliques é possível conseguir quase qualquer faixa já lançada no mercado musical, muitas vezes sem precisar ter que desembolsar um só centavo. O mercado fonográfico está se polarizando, cada vez mais, entre lançamentos digitais e edições para colecionadores. O AC/DC é uma das bandas mais pródigas em itens para colecionadores, o que proporciona também algumas jóias musicais perdidas nas prateleiras de alguns privilegiados.

Um dos motivos do AC/DC ter tanto material pouco conhecido pelo grande público é a duplicidade dos lançamentos feitos pelo grupo. Como todos sabem, a banda se formou na Austrália, onde estouraram e lançaram seus primeiros trabalhos. Conforme o grupo passou a conquistar espaço no mercado europeu e norte-americano, seus trabalhos foram relançados, muitas vezes de forma bem diferente das versões originais australianas.

Esses lançamentos australianos, por sinal, são objetos de desejo dos admiradores, e chegam a ter preços exorbitantes no mercado de colecionadores, principalmente quando são originais da época, em vinil. Antes de estourar internacionalmente, o AC/DC lançou dois álbuns exclusivamente no seu país de origem, pela Albert Productions -
High Voltage e T.N.T., ambos de 1975.

Após assinar com a Atlantic Records, o grupo lançou internacionalmente um novo disco, homônimo ao seu primeiro lançamento australiano, que na verdade é uma compilação dos dois trabalhos anteriores. Por conta disso, algumas das faixas desses discos não ficaram muito conhecidas, como, por exemplo, "Stick Around" e "Love Song" (provavelmente a única balada gravada pelo AC/DC), do
High Voltage australiano, e a versão de "School Days", de Chuck Berry, que saiu no T.N.T.

Outro aspecto apreciado pelos colecionadores são as diferentes artes das capas dos lançamentos. High Voltage, por exemplo, saiu com três capas diferentes: a original australiana; uma segunda na versão original européia, lançada em 1976; e a mais conhecida internacionalmente.

Capa original de High Voltage australiana, de 1975

Capa do lançamento europeu de High Voltage, de 1976

Capa mais conhecida de High Voltage, lançada internacionalmente

O primeiro single lançado pelo AC/DC

Uma curiosidade sobre
T.N.T. é que, apesar de ser o segundo álbum do grupo, há entre as faixas do disco uma das primeiras composições da banda, "Can I Sit Next to You Girl", lançada como lado B do primeiro single do AC/DC, ainda com o vocalista original, Dave Evans. O single, de 1974, é uma verdadeira raridade, que traz no lado A a faixa "Rockin' in the Parlour". A canção em questão é bem diferente do estilo que a banda adotaria a partir 1975. A versão de "Can I Sit Next to You Girl" que vem em T.N.T. já é uma regravação, com vocais de Bon Scott.

A bela capa da versao australiana de Dirty Deed Done Dirt Cheap

O segundo lançamento internacional do AC/DC, Dirty Deeds Done Dirt Cheap, também teve sua versão australiana, que saiu alguns meses antes, com uma capa diferente e com algumas faixas distintas. Entre as canções que só saíram na terra dos cangurus está o excelente blues rock "R.I.P. (Rock in Peace)" e o clássico "Jailbreak", que já havia sido lançado como single em 1974. As versões da faixa-título e de "Ain't No Fun (Waiting Round to Be a Millionaire)" lançadas internacionalmente foram editadas em relação às originais e tem durações menores. Em compensação, a versão internacional de Dirty Deeds Done Dirt Cheap veio com uma faixa que na Austrália só saiu como single, "Love at First Feel".

A capa australiana de Let There Be Rock

Em 1977,
Let There Be Rock foi lançado em março na Austrália e em junho no resto do mundo. Mais uma vez os dois lançamentos tiveram diferenças marcantes. A mais visível está na capa, mas as faixas estão em ordens diferentes e na versão australiana há "Crabsody in Blue" no lugar de "Problem Child", que na Oceania já havia sido lançado no álbum anterior.

A partir de 1978 os lançamentos do AC/DC passaram ter suas versões originais lançadas em outras partes do planeta. A versão norte-americana de
Powerage é idêntica à australiana. Na Europa, no entanto, o disco saiu com uma faixa a mais: "Cold Hearted Man", que recentemente saiu na caixa Backtracks. A arte da capa saiu idêntica em todo o mundo.

Capa australiana de Highway to Hell

O último disco da banda com os vocais de Bon Scott foi o primeiro a ser lançado simultaneamente em todo o planeta e com as mesmas faixas. A arte da capa australiana, contudo, tem algumas diferenças. O álbum, no entanto, marcou a internacionalização definitiva do grupo. A partir de
Highway to Hell o AC/DC se tornou uma banda do mundo.

O ótimo box Bonfire

Algumas gravações raras da banda saíram na caixa-tributo a Bon Scott, lançada como
Bonfire, em 1997. O box traz gravações ao vivo da banda nos estúdios da Atlantic Records, em Nova York, em 1977, e no Pavillon de Paris, em 1979. Além de uma versão remasterizada de Back in Black (disco lançado como um tributo a Bon Scott), a caixinha traz um CD recheado de raridades. Esse disco foi intitulado Volts e traz, entre muitas outras coisas, a versão original de "Whole Lotta Rosie", que se chamava "Dirty Eyes", que tinha letra e até a harmonia bem diferentes da faixa que viria ser um clássico do AC/DC. Da versão original só se aproveitou, basicamente, o riff.

O disco de raridades Volts

Volts traz, ainda, versões alternativas para "Touch Too Much" e "If You Want Blood You Got It" e "Get It Hot", além da versão original de "Beatin' Around the Bush", que anteriormente se chamou "Back Seat Confidential".

Quer ouvir algumas dessas raridades e outras músicas esquecidas pela banda e pelos fãs? Acesse o site do MOFODEU, o orograma que tira o MOFO do ROCK, e ouça o podcast número 74:
AC/DC Além do Óbvio. Ao invés de ficar ouvindo sempre as mesmas canções da banda, conhece algumas pérolas perdidas em www.mofodeu.com

Comentários