Minha Coleção: um papo sensacional com Marco Antonio Gonçalves, o dono da coluna Castiga!


Por Fábio Pires
Colecionador e Pesquisador Musical
A Musicalidade

Nesses últimos anos, em algumas comunidades de relacionamento da internet, conheci vários tipos de pessoas, dentre elas colecionadores que estimam seus discos e muito têm em experiência para acrescentar ao mundo da música.

Por mais que ainda exista essa relação um pouco conturbada entre fãs e artistas, ainda deve ser valorizada a figura do colecionador sério e obstinado, não por ter material em grande quantidade ou mesmo em ter um trabalho com uma faixa a mais naquele CD reeditado várias vezes, mas o colecionador que possui grande conhecimento de música em geral, procura saber a história do artista, o ídolo do ídolo, os influentes, o porquê da elaboração da obra musical do artista/banda, enfim sua história como um todo.


Nesses motivos mencionados, coloco uma pessoa em especial que leva a sério o assunto: Marco Antonio Gonçalves. Colecionador, pai de família, palmeirense nas horas vagas, escritor de matérias interessantíssimas em publicações musicais, dono do blog Sinister Salad Musical’s e profundo conhecedor da arte musical. Eis aqui as palavras do ilustre bolha!


Primeiro gostaria que se apresentasse e contasse um pouco de sua vida e sua história com os discos, por favor.

Opa! Vamos lá! Meu nome é Marco Antonio Gonçalves, tenho 40 anos de idade, sou casado, tenho um filho e moro na Grande São Paulo. Sou formado em jornalismo, torço pro Palmeiras e além de lidar com alguns bens familiares, sou pesquisador musical nas horas vagas e inveterado colecionador de discos a todo instante. Muito prazer!

Bom, minha paixão por discos é algo que veio crescendo com o passar dos anos, desde a época em que escutava aqueles compactos coloridos com historinhas infantis, ainda na primeira metade da década de 70. Dos tempos de infância, lembro também de alguns discos de Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Orlando Silva e de outros artistas da velha guarda que ficavam jogados na sala de um sítio que minha família tinha em Santa Isabel, na Grande São Paulo. Eram LPs da década de 60, alguns de 78 rotações. Eu devia ter uns 5, 6 anos de idade, e não dava muita bola para eles.

Acho que o “estalo” aconteceu em 1977, quando ganhei o meu primeiro LP: o volume 1 do Sítio do Pica-Pau Amarelo. A trilha sonora do programa infantil da Rede Globo trazia no repertório músicas de Gilberto Gil, Doces Bárbaros, João Bosco, Dorival Caymmi, MPB 4, Sérgio Ricardo, Jards Macalé e Marlui Miranda, entre outros. Um disco bem bacana, uma pena que eu não o tenha mais. E assim foi.

Já no final dos anos 70, o meu barato era outro: fuçar as rádios e gravar as músicas em fitas K-7, uma espécie de hacker das antigas, fazendo downloads via rádio (risos). Nessa época, lembro que eu escutava direto a fita K-7 original d´O Dia em que a Terra Parou, do Raul Seixas. Só mesmo na década de 80 é que comecei a investir nas bolachinhas. Só não poderia imaginar que me tornaria um colecionador compulsivo de discos e um freqüentador constante de sebos empoeirados.


Quando e onde você comprou o seu primeiro disco?

É engraçado que grande parte dos colecionadores consegue lembrar do primeiro disco que adquiriu. Eu tenho dúvidas. Acho que o primeiro que eu comprei com a minha grana foi uma coletânea do Raul Seixas chamada O Melhor de Raul Seixas, lançada pela WEA em 1981. Em qual loja foi, sinceramente não me recordo. Já no formato CD, lembro que foram cinco aquisições de uma só vez: o Hips of the Tradition do Tom Zé; o Live MCMXCIII do Velvet Underground em edição dupla; o Are You Experienced? de Jimi Hendrix; o Exile on Main St dos Rolling Stones; e o Bongo Fury do Zappa. Isso foi em 1993, época em que já comprava muitos LPs me aproveitando um pouco da onda que dizia que o vinil havia se tornado obsoleto com o surgimento do CD. Bons tempos aqueles onde, nadando contra a corrente, acabei comprando alguns lotes de vinis por preços bem camaradas. Ao mesmo tempo já ia me habituando com o termo “falência” frequentando as lojas da Galeria do Rock, a Eric Discos, a rua dos discos na Praça Benedito Calixto e a saudosa Nuvem 9, que ficava perto de onde eu morava.


Qual o momento melhor de um colecionador e sua coleção?

Acho que são dois os momentos de glória de um colecionador comum. Um deles é quando ele se encontra em seu habitat natural, ou seja, enfurnado em um sebo, garimpando os discos que a tanto tempo procura. Vasculhar lotes com “novidades” e encontrar preciosidades do arco da velha não tem preço.

O outro grande momento é justamente quando o colecionador – no aconchego do seu “antro bolha” – passa a escutar as novas aquisições. E comigo esse processo de audição é bem demorado, já que fico um bom tempo rodiziando alguns discos e escutando os mesmos várias vezes. Procuro não só absorver a maior quantidade de informações sonoras, como também observar minuciosamente a arte gráfica das capas e dos encartes, assimilar a formação das bandas, fazer associações com outras agremiações, colher informações referentes àquele disco e sei lá mais o quê.

Além disso, tenho outro costume: se adquiro um disco do Allman Brothers, por exemplo, lá vou eu escutar os outros discos do grupo que já possuo na coleção. E como geralmente eu compro muitos discos numa mesma leva, acabo demorando meses para ouvir todas as novas aquisições. Para se ter uma idéia, estou com mais de 170 LPs que ainda não dei ouvidos, muito por conta desses meus hábitos tradicionais. É a prova definitiva de que não passo de um bolha rastejante conta-gotas. Que dureza!


Quais os grandes álbuns de sua coleção - me refiro aos seus prediletos - ou isso não existe para você?

Caramba, isso é muito difícil de responder. Eu procuro dar atenção a todo tipo de música e coleciono discos de estilos diversos. Como estou sempre adquirindo novos itens para a coleção, novidades surgem aos montes e as preferências se alternam dia após dia. Geralmente essas escolhas recaem sobre os nossos discos de estimação, mas podem também sugerir aquilo que estamos escutando com maior regularidade no momento. Esse lance de “prediletos” lembra aquela famigerada pergunta “quais discos você levaria para uma ilha deserta?”. Pois bem, para não ficar em cima do muro, vai aí uma lista com 10 discos bem bacanas, alguns já bem conhecidos dos bolhas de plantão:

* Frank Zappa – Hot Rats

* Captain Beefheart & His Magic Band – Shiny Beast

* Savoy Brown – Raw Sienna

* Jeff Beck – Blow By Blow

* Paul McCartney – Raw

* Rolling Stones – Let It Bleed

* Gentle Giant – Acquiring the Taste

* James Brown – The Payback

* Demon Fuzz – Afreaka!

* Jorge Ben – A Tábua de Esmeraldas

É só uma pequena amostra de alguns discos que eu não me canso de escutar. Na verdade, eu acho impossível selecionar uma quantidade tão pequena dos “meus discos prediletos”. Ficaria mais fácil se a pergunta fosse “quais os seus mil discos prediletos”. E com certeza outros cinco mil ficariam de fora (risos).


Marco, qual estilo você considera como o mais relevante em sua coleção? Por que?

Sinceramente, não saberia dizer. Sou eclético pacas, escuto todos os estilos musicais e curto com a mesma intensidade tanto o blues quanto o soul, o funk, o jazz, o rock ou a MPB. É um leque que inclui não só bandas e artistas clássicos, como as mais obscuras agremiações; engloba sons de décadas passadas e também as últimas novidades musicais. Dentro dessa perspectiva, acho relevante não só os meus discos do Black Sabbath, Deep Purple e Motörhead, como também os álbuns de Miles Davis, John Coltrane e Aretha Franklin; são de grande valor os discos do “setor negão” (Mandrill, Nite-Liters ou The Meters) como também são essenciais os discos do Tom Zé, Jards Macalé ou Itamar Assumpção; são fundamentais os álbuns do Wilco, Josh Rouse e The Flaming Lips, bem como os plays do Soft Machine, King Crimson ou Pink Floyd. Portanto, acho que todos os gêneros musicais que marcam presença na minha coleção merecem a devida consideração. O mais importante é não estabelecer limites para a música e escutar de tudo, sem preconceitos. Mesmo porque, em qualquer segmento musical, dá para encontrar os bons sons.


Alguma vez você foi impedido de comprar algum disco devido à uma discussão com pais e/ou esposa?

Que é isso, Fabião. Tá me estranhando? (risos) Quanto a isso sou vacinado. Pago minhas contas – nem sempre em dia, é verdade – e não tem ninguém que me impeça de comprar discos, ainda mais quando o custo-benefício vale a pena. Na verdade, tenho um valor limite para pagar em um único disco e dificilmente cometo loucuras. O máximo que já paguei em um LP foi a quantia de 200 reais, gastos recentemente com a aquisição do disco Cilibrinas do Éden, primeiro projeto solo de Rita Lee pós-Mutantes, ao lado de Lúcia Turnbull. Gravado em 1973 para o selo Philips, trata-se de uma raridade nunca antes lançada oficialmente, e que só em 2008 saiu com tiragem limitada de 500 cópias.

A tendência é que o play se valorize cada vez mais com o passar dos anos. Há poucos meses, consegui também o primeiro LP do Trio Mocotó intitulado Muita Zorra! São Coisas que Glorificam a Sensibilidade Atual!, de 1971, e que se não me engano nunca foi lançado em formato digital. O valor com desconto ficou em torno de 170 dinheiros, mas como comprei mais de 40 discos na mesma loja, o preço na média caiu para 60 reais. Não deixa de ser uma nota preta, mas quem coleciona e conhece do riscado sabe que esse disco vale muito mais. Não vou dizer que essas compras exageradas e com valores “salgados” não inquietam a minha esposa, por exemplo, mas vou fazer o quê? Ninguém mandou ela casar com um bolha de carteirinha como eu (risos).


Como você cuida de sua coleção?

Guardo os vinis e os CDs em estantes separadas, que ocupam duas paredes inteiras de um quarto que apelidei de “canto bolha”. Os LPs estão todos com plásticos protetores internos e externos, armazenados em posição vertical. Tenho preferência pelos LPs originais em bom estado, mas não dispenso uma reedição bacana. Cultivei o hábito de só comprar discos importados, salvo quando são álbuns de artistas nacionais. Dos discos de música brasileira só vou atrás dos originais, afora raríssimas exceções. Tanto os LPs quanto os CDs separo por estilos, em ordem cronológica, mas não em ordem alfabética – tática que está ficando preocupante, já que outro dia demorei quase 5 minutos para encontrar o meu play do Cosmic Travelers (risos).

Bom, quando compro algum vinil muito sujo, costumo lavá-lo em água corrente com sabão neutro ou de coco. Quando o disco está sujo superficialmente, prefiro limpá-lo passando uma flanela umedecida com uma solução 20% álcool, 80% água. Mas a primeira opção é a mais indicada, só tendo o devido cuidado para não molhar o selo. É importante também ter um toca discos decente e, claro, trocar as agulhas periodicamente. Isso ajuda a preservar estas verdadeiras antiguidades vinílicas.

Enfim, procuro cuidar da minha coleção com todo carinho e atenção, sempre alimentando as prateleiras com títulos que façam a diferença.


Você ainda procura muitos álbuns os quais precisa ter? Se sim, quais seriam?

Acho que todo colecionador está sempre atrás de algum item especial para incrementar a sua coleção, uma raridade difícil de se conseguir, um play com edição limitada ou quem sabe aquele bootleg nunca antes visto. O colecionador é aquele que busca ter algo diferenciado no seu acervo e comigo não é diferente. Pode ter certeza que continuo buscando aqueles discos que habitam os meus sonhos há tempos. E a lista é grande!

Se fosse citar todos, eu ocuparia um espaço imenso nesta entrevista, mesmo porque não vou negar que tenho atirado para todos os lados diante de tanta música boa que foi e continua sendo produzida na face da Terra. Só para citar poucos exemplos, ando à caça de alguns álbuns de Harvey Mandel, Keef Hartley Band, Don ‘Sugar Cane’ Harris, Brian Auger’s Oblivion Express, Frankie Miller, The Aynsley Dunbar Retaliation, Cuby + Blizzards, Edgar Broughton Band, os discos com o selo “swirl” da Vertigo que eu ainda não tenho e outros mais, só para ficar na esfera do rock obscurantista das antigas. Mesmo álbuns de bandas clássicas como os Beatles, Stones, Kinks ou Who, ainda faltam títulos na minha coleção. Sem falar do que ando atrás em todos os outros gêneros musicais. Haja falência!

Mas o grande barato de colecionar discos é saber que a fonte nunca vai terminar. Costumo dizer que se chegar aos 70 anos não serei nada mais que um velho caquético rastejando pelos sebos em busca do bootleg perdido (risos).


Qual a sua última grande aquisição?

Em CD foi o duplo Wazoo de Mr Zappa, que eu já procurava desde o seu lançamento, em 2007, e não o encontrava de jeito nenhum. Finalmente o achei numa loja da Galeria do Rock.

Em LP foram várias grandes aquisições, já que recentemente comprei um lote com mais de 100 discos, quase todos em edições originais. Vai aqui uma listinha com algumas das aquisições: os dois primeiros do Electric Flag (bandaça de soul psicodélico que contava com o batera Buddy Miles e o guitarrista Mike Bloomfield); o Happy Together e o It Ain’t Me Babe dos Turtles (selo White Whale); os três do Buffalo Springfield (outra bandaça que contava com Steve Stills e Neil Young); o Inspiration Information do Shuggie Otis; o Choice Cuts do Pure Food and Drug Act (projeto que contava com o guitarrista Harvey Mandel e o violinista Don ‘Sugar Cane’ Harris); o primeirão do Frijid Pink; o For Real do Ruben and the Jets (produzido pelo mentor do grupo, Mr Zappa); vários plays do Parliament e do Funkadelic; muitos discos de jazz e black music e alguns de rock portenho também.

De música brasileira, peguei o primeirão do Trio Mocotó, dois de Dom Salvador (um deles o Som, Sangue e Raça com o grupo Abolição), o Ataque do grupo Catedráticos (com o jovem Eumir Deodato), o primeiro da violonista Rosinha de Valença, a trilha sonora da novela O Rebú da Globo, composta por Raul Seixas e Paulo Coelho, e por aí vai. Comprei um lote realmente sensacional, só com discos em estado impecável. Estou falido, é verdade, mas ao menos a dispensa está guarnecida para eu me alimentar dos bons sons pelo menos até o próximo inverno.


Qual sua opinião sobre o embate downloads x CDs x vinis?

O download gratuito é uma ferramenta que favorece aqueles consumidores de música que se sentiam explorados pelos altos preços praticados pela indústria fonográfica. O problema é que com essa febre de baixar arquivos de modo desenfreado o povo perdeu o hábito de comprar discos e, desta forma, aplicou um golpe mortal na indústria da música. Agora discografias completas podem ser armazenadas em um arquivo fuleiro qualquer. Não existe mais a essência do produto original, aquele conceito histórico por trás de uma obra discográfica, as capas impactantes, os belos encartes contendo fotos, letras e informações da banda … ficou tudo banalizado! O resultado é que gravadoras, revistas de música e lojas de discos estão agonizando. E o pior é que ninguém sabe ao certo o que virá depois disso. É um assunto bastante complicado.

Eu baixo discos e tenho um blog onde faço resenhas, coloco vídeos e disponibilizo links para downloads. Acho que os blogs de MP3 são importantes para as pesquisas musicais, para o internauta conhecer álbuns de grupos de décadas passadas ou mesmo o trabalho de novas bandas da cena underground, por exemplo. Para mim pelo menos funciona assim. Se eu baixar e gostar do som, o disco entra automaticamente na minha lista de novas aquisições. Se todos os “downloadeiros” comprassem um CD de vez em quando, com certeza o mundo seria melhor.

Aliás, disponibilizar discos para download gratuito tem sido a tática de muitas bandas independentes que, desta forma, divulgam o seu trabalho e atraem um público maior para os seus shows. Por outro lado, é compreensível o incômodo por parte daqueles artistas que já passaram dessa fase underground e hoje estão batalhando a auto-sustentabilidade. Alguns deles – que eram a favor e agora são contra os downloads gratuitos – alegam que essa prática tem os afetado financeiramente. E o que dizer dos pilantras que “queimam” CDs na web e depois vendem os discos piratas na rua?

Enfim, esse embate download x CD é um assunto que dá pano pra manga. De qualquer forma, no ano passado uma boa alternativa surgiu quando a gravadora Trama e o cantor Tom Zé lançaram “o primeiro álbum virtual do mundo”. Segundo consta, o álbum é grátis para o público (via download), mas remunerado para o artista. Ambos lucram com a publicidade veiculada no site da empresa. Não deixa de ser interessante.

Mas vamos aguardar para ver se a indústria se reorganiza em novos moldes, já que é o futuro da música que está em jogo.


Sobre qual coleção você pensa: eu queria ser esse colecionador! Ou isso não existe?

Coleção é algo muito particular e cada um coleciona aqueles discos que lhe convém. Tem colecionador que só adquire itens de determinada banda, outros só álbuns de determinado estilo, muitos compram o mesmo álbum com prensagens de países diversos. Comigo é diferente. O meu barato é colecionar boa música, seja ela de qual gênero for. E não compro mais do que uma cópia de um mesmo disco. Só abro exceções para álbuns que apresentam capas diferentes, como o Band of Gypsys ou o Electric Ladyland do Hendrix, o Street Survivors do Lynyrd Skynyrd, o Tons of Sobs do Free ou o primeiro do Spooky Tooth, por exemplo. Outro fator que não vejo problema é ter o mesmo disco em CD e vinil. Fora isso, acho um desperdício.

O que me atrai numa coleção não é a quantidade, mas sim a qualidade e a diversidade dos títulos. Eu ainda estou longe de ter todos os discos que quero, mas estou contente com os discos que já consegui para a minha coleção. Enfim, cada um com as suas coleções, manias e predileções musicais.


Liste alguns colecionadores e sua opinião sobre eles.

Quando se fala em grandes colecionadores de discos aqui do Brasil, aqueles com quantidades absurdas de LPs e CDs, logo me lembro do Kid Vinil, do Ed Motta, do Roberto Maia, do Régis Tadeu ou do Luiz Calanca da Baratos Afins. São cinco bons exemplos de colecionadores compulsivos e ecléticos como eu. Sigo a mesma vibe, mas sei que ainda preciso falir muitas vezes para obter pelo menos a metade da quantidade de discos que essa turma possui. Quem sabe um dia eu chego lá! (risos)


O que acha sobre os relançamentos de discos de vinil no Brasil?

Se você se refere ao pacote da Sony – que soltou no mercado uma série chamada “Meu Primeiro Disco”, contendo o primeiro LP de alguns artistas do seu cast – eu sinceramente acho que foi uma pisada na bola. Não pela bela iniciativa da gravadora em relançar discos nacionais em edições limitadas, com um novo projeto gráfico, boa gramatura e som remasterizado (incluindo um CD com faixas extras), mas sim pelas escolhas equivocadas de algumas dessas estreias. Pagar 90 reais no primeiro play do Vinícius Cantuária, do Inimigos do Rei ou do Engenheiros do Hawaii, sendo que posso encontrá-los facilmente nos sebos pela bagatela de 1 real, é algo surreal. Nem a prensagem gringa, nem a inclusão do CD original no pacote, justificam um preço tão salgado, ainda mais por se tratar de álbuns muito fracos. De bom mesmo nessa primeira leva, os relançamentos dos primeiros LPs de João Bosco e do Chico Science & Nação Zumbi, que eu gosto bastante e até tenho os originais.

Já que a Sony é detentora dos acervos das antigas CBS, RCA e Columbia, acho que os executivos da gravadora poderiam fazer um esforço e lançar álbuns mais significativos de seu catálogo, como alguns de Baden Powell, Raul de Souza, Eumir Deodato, Banda Black Rio, A Cor do Som, Milton Nascimento, Roberto Carlos, Renato & Seus Blue Caps, Luiz Gonzaga e tantos outros. De qualquer forma, se o valor cobrado pela Sony for mantido, ficará bem acima dos praticados com relação aos originais. Aí não tem colecionador que banque mais um fiasco da malfadada indústria fonográfica.

Para finalizar esse assunto, a Polysom – última fábrica de vinil do país e que havia fechado as portas há dois anos – se prepara para retornar em breve através da gravadora DeckDisk. A volta da fabricação de discos no país é muito bem-vinda e a promessa é que a prensagem seja de alta gramatura e que custe bem menos que os discos fabricados no exterior. Tomara que bons lançamentos surjam nessa empreitada para o bem dos aficionados pelo bom e velho vinil. Vamos aguardar!


Quais publicações você lê e acha importantes para um colecionador?

Pra falar a verdade, ultimamente só tenho lido a poeira Zine do brother Bento Araújo e a Rolling Stone Brasil, que é uma revista que fala não só de música como também de política, TV, cinema e comportamento geral. Das publicações voltadas para a música, vez ou outra dou uma folheada nas revistas Roadie Crew, Jazz +, Mojo, Uncut ou na Record Collector, isso quando as encontro.

Também gosto de ler as biografias de bandas e músicos. As últimas que eu li foram a autobiografia do Eric Clapton; A Dramática História de uma Lenda do Rock, de Sharon Lawrence, sobre Jimi Hendrix; e a do Tim Maia, narrada por Nelson Motta no livro Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia - todas sensacionais.

Tem o livro 1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer, de Robert Dimery, uma bíblia de 960 páginas com fotos e resenhas escritas por diversos jornalistas e críticos musicais espalhados pelo mundo. O livro abrange um período da música que vai de 1955 até os dias de hoje, numa seleção dos “álbuns mais inesquecíveis de todos os tempos”. Apesar de discordar de muitas indicações e sentir falta de vários outros discos entre os 1001, acho que vale o investimento.

Agora, se você é mais um daqueles colecionadores obcecados por raridades discográficas espalhadas pelo planeta, os catálogos da Record Collector Dreams, editados pelo colecionador austríaco Hans Pokora, são altamente recomendáveis.


Quais projetos você tem envolvendo o colecionismo de discos?

Projeto envolvendo o colecionismo só o que se refere a ter uma cópia de cada disco já lançado no planeta (risos). Brincadeira! Esse projeto aí já tem dono: é do amigo, colecionador e lenda dos sebos que atende pelo nome de Elvis. Maiores detalhes você encontra no documentário Nuvem 9 – O Filme, produzido por Paulo Beto, que é no mínimo sensacional!

De minha parte, entre uma audição e outra, decidi criar um blog chamado Sinister Salad Musikal, justamente para socializar aquilo que escuto em casa. Apesar de ser preguiçoso pacas para atualizar a bagaça, ainda assim coloco lá meus textos, vídeos e links para download de discos. Também sou colunista da Collector’s Room, editado pelo brother Ricardo Seelig, vulgo Cadão. Lá você encontra matérias de colecionadores e jornalistas falando sobre uma das nossas grandes paixões: a música! Castiga!


Qual sua mensagem aos colecionadores e à nova geração dos apreciadores dos bons sons?

Acho de vital importância que os colecionadores e apreciadores de música em geral estejam atentos a todas as vertentes musicais, tentando de certa forma ampliar o seu território musical. Escutem metal e hard rock, mas dêem ouvidos ao jazz, ao fusion, por exemplo. Se vocês acham que só as bandas de décadas passadas é que prestam, procurem se inteirar do que está acontecendo ao seu redor em termos de novidades musicais. Existem muitas bandas descartáveis, é verdade, mas tem outras tantas altamente recomendadas. Não ficar preso a um único estilo ou apenas à música do século passado é o segredo para descobrir novas perspectivas musicais. É isso aí, está dado o recado. E quero agradecer a você Fábio pelo convite e pela oportunidade de mostrar um pouco da minha coleção. Valeu! Um forte abraço.

Comentários

  1. Maravilha. Parabéns por mais essa pessoal.

    Este é o tipo de coleção que mais tem a ver com o que penso.

    O que define se a música é boa ou não são os meus ouvidos, não os rótulos!!!

    Saudações,

    Izaias Arruda.

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  2. Somos poucos - colecionadores - mas ainda estamos na ativa. E isso é o que conta.

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  3. ótima entrevista.
    parabéns a todos da collectors.
    abç.
    tito

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  4. Maravilhosa coleção e maravilhosa entrevista! demais!
    Ronaldo

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  5. Muito bom. Belissima coleção. Parabens

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  6. Fantástica coleção e ótima entrevista. Meus parabéns.

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  7. Vez em quando eu acesso o Colectors para ver as coleções, mas fui surpreendido novamente. Confesso que nunca vi uma coleção dessas. Faço questão de dar parabéns ao site por mostrar uma coleção maravilhosa como essa. Espero que mais entrevistas como essa sejam publicadas. Abraços a todos do Colectors.

    Daniel

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  8. Daniel, obrigado pelo comentário. Essa coleção do Marco é realmente uma das mais impressionantes que eu conheço e, além de tudo, ele é muito gente boa.

    Valeu!

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  9. Com os devidos descontos, até parece que sou eu o entrevistado. Também sou do tempo do downloading do rádio para as fitas cassete.

    Esta é uma das melhores entrevistas que li neste blog, pela clareza das respostas, e sem a afetação típica de muitos colecionadores.

    Ótima coleção.

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  10. Genecy, também considero essa matéria com o Marco uma das melhores já publicadas aqui na Collector´s. E mais: ele tem a coleção que eu gostaria de ter!

    Abraço, e valeu pelo comentário!

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  11. Belíssima entrevista e uma coleção espetacular - dá para sacar isto só pelas fotos!

    Parabéns ao Marco e ao Ricardo!

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