Rigotto´s Room: Os ratos quentes do Supergrass


Por Maurício Rigotto
Escritor e Colecionador

Em 1995, uma canção alegre e divertida estourou nas paradas de sucesso do mundo todo, tocando massivamente nas rádios e tendo o seu videoclipe exibido excessivamente na Emetevê. A música chamava-se “Alright” e era interpretada por uma nova banda da Inglaterra formada por três garotos, chamada Supergrass.

Gostei da faixa e quando chegou por aqui I Should Coco, o primeiro CD do grupo, comprei de imediato. Para minha agradável surpresa, não apenas “Alright” era uma boa música, mas todas as doze canções do álbum eram ótimas, criativas, bem elaboradas e traziam um clima festivo que contrastava com a seriedade de outros conjuntos ingleses da época. Fiquei imediatamente fã da banda, que em minha opinião era a melhor entre as surgidas nos anos noventa.


Dois anos depois, o segundo disco, In It for the Money, ratificou ainda mais a minha opinião, pois exibia amadurecimento e grande musicalidade em suas faixas, com destaque para “Sun Hits the Sky”, talvez a melhor canção do rock inglês da década de noventa. A banda nunca mais teve um sucesso estrondoso como “Alright”, mas seguiu lançando ótimos discos e angariando uma fiel legião de fãs pelo mundo.

Embora seus álbuns (são seis até o momento) sejam compostos apenas por composições próprias, o grupo passou a incluir alguns covers nos lados B dos seus singles, como “Condition” (Kenny Rogers), “Some Girls are Bigger than Others” (The Smiths), “The Loner” (Neil Young), “Stone Free” (Jimi Hendrix Experience) e “Next to You” (The Police). Nos shows, o Supergrass costumava tocar “Day Tripper” (Beatles) e “Where Have All the Good Times Gone” (The Kinks).

No final de 2008, a banda finalizou a gravação de seu sexto álbum, Diamond Hoo Ha, e gravou uma potente versão para “Beat It” de Michael Jackson, para ser incluída em um dos singles do lançamento.

Prestes a sair em turnê para divulgar o novo CD, uma bizarra fatalidade atingiu o baixista Mickey Quinn, que caiu da janela de um quarto no primeiro andar de um edifício em Paris, quando caminhava dormindo pelo parapeito durante um ataque de sonambulismo. No acidente, Mickey Quinn quebrou as pernas e duas vértebras da espinha dorsal, que sofreu um abalo que por muito pouco não o deixou paraplégico.


A queda tiraria o baixista de circulação por um longo período, tempo necessário para sua penosa e dolorida reabilitação. Para não ficarem parados, Gaz Coombes (vocal e guitarra) e Danny Goffey (bateria) se uniram e formaram uma dupla composta somente por guitarra e bateria, nos mesmos moldes das bandas Black Keys e White Stripes. Inspirados na recente versão de “Beat It” que haviam feito, decidiram que iriam tocar apenas covers em seu novo projeto, e batizaram o duo com o nome de The Hot Rats, em homenagem ao disco homônimo de Frank Zappa.

Durante o ano passado, The Hot Rats fez uma turnê pela Europa e tocou nos tradicionais festivais Glastonbury, Reading e Leeds. A dupla se uniu ao produtor do Radiohead, Nigel Godrich, e começou a gravar em estúdio as suas versões de faixas que vinham tocando ao vivo. A cover de “Drive My Car”, dos Beatles, logo foi incluida em um comercial do perfume Orange Hugo Boss, estrelado pela bela atriz Sienna Miller, despertando a atenção do público para a dupla. A despretensiosa banda resolveu então gravar um álbum de covers, inspirados no disco
Pin Ups, que David Bowie gravou em 1974.


Essa semana (19/01 nos Estados Unidos e 25/01 na Inglaterra) está chegando às lojas o excelente
Turn Ons, o álbum de releituras do Hot Rats, que promete ser um dos melhores discos de rock and roll de 2010. O disco já começa com três petardos sessentistas: “I Can’t Stand It (Lou Reed/Velvet Underground), “Big Sky” (The Kinks) e “The Crystal Ship” (The Doors). Seguem-se inusitadas interpretações para “(You Gotta) Fight for Your Right (To Party!)” (Beastie Boys), “Damaged Goods” (Gang of Four) e “Love is the Drug” (Roxy Music). A psicodelia vem bem representada pela canção de Syd Barrett, “Bike” (do primeiro disco do Pink Floyd), seguida por uma versão mais acelerada de “Pump it Up” (Elvis Costello) e pela oitentista “The Lovecats” (The Cure). Há ainda o clássico “Queen Bitch” (David Bowie), o escracho punk “E.M.I.” (Sex Pistols) e “Up the Junction” (Squeeze). O Hot Rats ainda gravou “West End Girls” (do pop duo oitentista Pet Shop Boys) e “Mirror in the Bathroom” (The Beats), que ficaram de fora do CD e devem ser incluídas em singles.

O que esperar de um apanhado de grandes canções, interpretadas com a competência e sonoridade de uma das melhores bandas da atualidade? Um grande disco! Turn Ons é um álbum maravilhoso! Faz cinco dias que não sai da gaveta do meu tocador de CD!


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