Dream Theater - Octavarium (2005)


Por Ricardo Seelig
Colecionador

Cotação: ***1/2


De certas bandas não se espera menos do que ótimos álbuns. O Dream Theater é uma delas. O grupo norte-americano foi o grande responsável pelo ressurgimento do rock progressivo no início da década de noventa, e até hoje se mantém como o maior nome do gênero em todo o mundo.


Após o já clássico e excepcional Scenes From a Memory, lançado em 1999; do excelente Six Degrees of Inner Turbulence, de 2002; e do ótimo Train of Thought, lançado em 2003 (e que foi injustamente apedrejado pelos fãs mais xiitas, que reclamaram de influências new metal em certas músicas), a banda lançou em 2005 seu oitavo álbum de estúdio, Octavarium.

Como todo trabalho do Dream Theater,
Octavarium é complexo e extremamente bem executado. A primeira música, "The Root of All Evil", inicia o disco de forma soberba, mantendo a tradição das faixas de abertura da banda, como "Overture 1928", "New Millenium" e "The Glass Prison". Com muito peso, nota-se de cara o destaque óbvio para as guitarras de John Petrucci e a bateria de Mike Portnoy, mas toda a banda mostra-se homogênea e extremamente sólida, com as intricadas linhas de cada instrumento interligando-se entre si. A letra desta canção dá continuidade ao processo de exorcismo dos problemas com álcool enfrentados por Portnoy e pelo vocalista James Labrie, já abordado em canções anteriores, como "The Glass Prison". Vale mencionar também o belo refrão, que resgata alguns trechos de "This Dying Soul", do álbum Train of Thought. Típica música do Dream Theater, abrindo o álbum exatamente com aquilo que os fãs esperam ouvir.

As primeiras notas de "The Answer Lies Within" nos remetem ao hit "My Immortal", do Evanescence, mas os fãs mais radicais não precisam torcer o nariz, já que Jordan Rudess mostra mais uma vez todo o seu talento e constrói um arranjo belíssimo, em uma das melhores baladas do grupo. Uma música agradável, que viraria hit com facilidade e levaria o nome do Dream Theater para um número muito maior de pessoas, caso este fosse o desejo da banda.

"These Walls" mais uma vez traz Jordan Rudess como destaque, principalmente no final, onde a música cresce sobre suas frases de teclado, em um resultado empolgante. A faixa seguinte, "I Walk Beside You", é a mais pop, e traz influências claras de U2, com a voz de Labrie lembrando, e muito, os vocais de Bono no refrão. Provavelmente será a faixa mais discutida de
Octavarium pelos fãs das antigas do grupo, e mais uma vez mostra a inigualável capacidade dos cinco integrantes do Dream Theater, que saem de seu habitat natural e se arriscam em um terreno totalmente diferente, mas sempre mantendo a alta qualidade do seu trabalho.

Contrastando com "I Walk Beside You", "Panic Attack" traz o tradicional Dream Theater que os fãs aprenderam a amar, em uma canção pesadíssima e cheia de andamentos quebrados, que é certamente um dos principais destaques do álbum. Mike Portnoy simplesmente destrói tudo nesta canção, enquanto Jordan Rudess e John Petrucci somam suas forças para dar ainda mais peso à canção.

Mas os grandes destaques do disco, aquelas músicas que vão fazer o fã lembrar de
Octavarium mesmo após anos de seu lançamento, ficaram guardadas para o seu final. Trechos de diversas notícias sobre fatídicos os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 dão início aos mais de onze minutos de "Sacrificed Sons" - vale lembrar que a banda retirou do mercado a primeira edição do ao vivo Live Scenes From New York, lançado no mesmo dia dos atentados, e que trazia as torres gêmeas em chamas na capa, em uma bizarra coincidência. O clima fica tenso e melancólico até os quatro minutos, onde a música dá uma virada e o grupo começa a viajar instrumentalmente, para a alegria dos fãs. Perfeita, perfeita, absolutamente perfeita, e com direito a arranjos orquestrais que tornam o final ainda mais apoteótico.

Já "Octavarium", a música, gerou comentários de que seria a nova "A Change of Seasons" pela sua duração. Mas, ao longo dos seus mais de 24 minutos, o que se vê em cada nota, em cada detalhe, é a união da genialidade, da sensibilidade e da capacidade técnica de todos os cinco integrantes do conjunto, em uma composição que, apesar de sua longa duração, não cansa o ouvinte.

Falar de Mike Portnoy, John Petrucci e Jordan Rudess é chover no molhado. Eles são as estrelas maiores do Dream Theater, o alicerce que mantém a banda viva (se alguém tem dúvida disso, é só olhar para trás e ver todo o histórico do grupo, e a nova vida que a entrada de Rudess, em 1999, deu à banda). Já o sempre discreto John Myung, que apesar da técnica incrível sempre ficou em segundo plano - mais por vontade própria e temperamento, já que assistindo ao DVD
Live at Budokan é fácil perceber o quanto as presenças e personalidades de Portnoy, Petrucci e Rudess o ofuscam -, em Octavarium sai da toca e nos entrega andamentos jazzísticos onde mostra todo o seu talento. Quanto a James Labrie, ele merece um parágrafo à parte.

Sempre apontado como o patinho feio do Dream Theater, frequentemente acusado de não estar à altura dos demais membros da banda, em
Octavarium Labrie lava a alma e mostra que é, sim, um excepcional vocalista. Deixando totalmente para trás os agudos irritantes do passado, neste álbum ele se concentra nos aspectos mais graves de sua voz, a transformando realmente em mais um instrumento na sonoridade única do grupo. Com toda a certeza está registrada em Octavarium a melhor performance de James Labrie em toda a sua carreira com o Dream Theater. Um tapa na cara dos seus inúmeros críticos, que ficarão felizes em dar o braço a torcer em troca de ver enterrados os timbres irritantes que o vocalista insistia em colocar em canções mais antigas como "Pull Me Under".

A produção mais uma vez ficou a cargo de Mike Portnoy e John Petrucci, e está excelente. Analisado com calma,
Octavarium coloca-se facilmente entre os melhores álbuns do Dream Theater, ao lado de Scenes From a Memory, Images and Words, Awake e Six Degress of Inner Turbulence.

Um disco para se ter em casa e curtir por muito tempo.
 


Faixas:
1 The Root of All Evil 8:25
2 The Answer Lies Within 5:33
3 These Walls 7:36
4 I Walk Beside You 4:29
5 Panic Attack 8:13
6 Never Enough 6:46
7 Sacrificed Sons 10:42
8 Octavarium 24:00

Comentários

  1. Eu gosto muito desse disco. Alguns fãs não gostam muito dele. Mas acho que a banda fez bem em experimentar novos caminhos me algumas músicas. A suíte que fecha o disco é fantástica, uma das melhores suítes do rock prog.

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  2. Eu gosto do DT... mas ainda não consigo diferenciar um disco do outro. Claro que os discos são bons, mas não sou um conhecedor extremo da banda.

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  3. Caro Ricardo, acompanho esse blog há alguns meses e aproveito esse post dedicado ao "Octavarium" para divulgar que também já escrevi sobre esse (e todos os outros discos que eu tenho do DT) no meu blog. Não vejo a hora de chegar o dia 16.03 para ver a banda, finalmente: http://erga-omnes.blogspot.com/2009/09/discografia-dream-theater-parte-x.html
    Grande abraço.

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  4. Quando o Dream Theater surgiu aqui no Brasil com o lançamento de Images and Words fui um dos que pegaram o disco e adoraram. Porém muita gente não gostou na época. Deposi aque a banda virou febre todo mundo gosta dela e no meu caso fui deixando de gostar. Para mim o Train of Thoughts, Octavarium e o Sistematic Chaos são bem inferiores aos discos da até o Six Degrees. Porém eu gostei do último disco. Eu falo sempre que o problema da banda são os fãs...

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  5. Dream Theater e Iron Maiden tem os fãs mais chatos ever. Mas não podemos confundir isso com os discos dos caras, que, inegavelmente, mantém uma qualidade muito acima da média.

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  6. Ricardo
    Eu falei que os fãs de DT são chatos por se importarem apenas com a técnica da banda. E muitas vezes os músicos, para agradar esses fãs, esquecem um pouco a música e primam pela técnica.
    E fã de Iron não é chato...é realista...hehehehe

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  7. Os fãs xiitas do dream Theater são insuportáveis, não aceitam nenhuma crítica à banda e tratam os caras como deuses.

    Ainda bem que não sou xiita...

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  8. São esses fãs que vão aos shows não para se divertir, mas para ver se os caras tocam igual ao disco.

    Gosto muito do Dream Theater, adoro viagens instrumentais e composições complexas, mas agor dessa maneira como eu citei no parágrafo anterior não é ser um apreciador de música, mas sim um neurótico portador de transtorno obcessivo compulsivo ...

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