Prateleira do Cadão: Alex Steinweiss, o cara que inventou as capas de discos


Por Ricardo Seelig
Publicitário e Colecionador
Collector´s Room


No início da indústria fonográfica, os Lps eram vendidos acondicionados em capas padrão. Não haviam capas exclusivas para cada disco. Os vinis vinham embalados em artes feitas em série, produzidas em papel kraft, com o logotipo da gravadora estampado e o título e intérprete tipografados identicamente. O formato padrão eram os discos de 10 polegadas (com cerca de 25 centímetros de diâmetro) e 78 RPM.


O ponto inicial para essa mudança ocorreu em uma bela tarde de 1939, quando o desenhista Alex Steinweiss, nascido no Brooklyn, em Nova York, em 24 de março de 1917, conseguiu marcar uma reunião com a diretoria da gravadora mais antiga do mundo, a Columbia Records. O momento era propício, afinal a Columbia havia sido recentemente adquirida pela CBS, e seus executivos ansiavam por novidades. Steinweiss conseguiu convencer o alto escalão da gravadora de que cada disco deveria ser tratado individualmente, e o ponto principal para isso seria acondicionar cada LP em uma capa exclusiva. Para mostrar aos executivos de que sua ideia funcionava, Steinweiss levou amostras de seu trabalho, mostrando que cada capa poderia ter um desenho próprio, de acordo com a música que o LP trazia. No final da reunião, Alex Steinweiss saiu empregado pela Columbia como o primeiro diretor de arte de uma companhia de discos.


O primeiro trabalho de Steinweiss foi o álbum Smash Songs Hits by Rodgers and Hart, lançado em 1940. O disco foi um sucesso, e inaugurou uma nova era na indústria fonográfica. As principais gravadoras perceberam que aquela inovação dava um grande resultado, e começaram a investir maciçamente em capas exclusivas. Vale lembrar que naqueles primeiros tempos não havia a fartura de títulos disponíveis que há hoje nas lojas, e o comportamento padrão do consumidor era chegar com uma lista com os itens que desejava e entregá-la ao vendedor, que providenciava os discos. Com o aumento da quantidade de LPs nas lojas, a capa passou a ter papel fundamental na hora de atrair os consumidores, e isso ficou evidente a partir da ideia inovadora de Steinweiss.

No final dos anos quarenta, a Columbia introduziu o formato long-playing em seu catálogo, e os discos passaram a ser fabricados em um formato maior – 12 polegadas, cerca de 31 centímetros de diâmetro -, podendo armazenar uma quantidade maior de faixas – geralmente 6 de cada lado, enquanto o de 10 polegadas tinha apenas quatro faixas em cada um dos lados. O formato maior abriu a possibilidade de um trabalho gráfico mais elaborado, e mais uma vez Steinweiss foi inovador, elaborando um esquema de dobras para as capas que se tornaria padrão em todo o mundo.


O desenhista ficou na Columbia entre os anos de 1939 e 1945, período no qual produziu aproximadamente 2.500 capas de discos. Após deixar de ser contratado exclusivo da Columbia, Alex abriu a sua própria empresa de design de capas, e desenvolveu trabalhos para várias gravadoras como Remington, Decca, RCA, London, além de alguns trabalhos para a própria Columbia.

Seu trabalho foi tão inovador que ele acabou criando sua própria fonte, que usou na maioria de suas capas. Esse lettering, batizado como Steinweiss Font, acabou ganhando o seu nome e é utilizado até hoje nos mais diversos trabalhos.

Alex Steinweiss trabalhou criando capas de discos até 1973, quando se afastou da indústria fonográfica e começou a desenhar posteres para a Marinha, ilustrações para revistas e grandes empresas.


Para quem se interessar pelo seu trabalho, em 2000 foi lançado um livro chamado For the Record: The Life and Work of Alex Steinweiss, escrito por Alex em parceria com Jennifer McKnight-Trontz, onde ele relata o seu processo criativo, fala como surgiram algumas de suas capas mais famosas e conta a história de sua vida, tudo, é claro, acompanhado por generosas imagens de seu trabalho.

Se você visitar a cidade de Sarasota, na Flórida, é capaz de trombar com Steinweiss pelas ruas. O artista vive nessa pequena cidade desde 1974, anônimo e em paz, sem que as pessoas desconfiem que o seu trabalho revolucionou a forma de vender e consumir música.

Comentários

  1. Muito legal esse curiosidade, uma idéia tão simples quanto obvia que é até de se estranhar que precisasse que alguém a tivesse.

    Quem imaginaria que todos os discos tinham a mesma "cara"? Será que havia muitos homônimos aproveitadores?

    Abraços.

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  2. Interessantíssima matéria, Cadão!
    Muito legal msm, está de parabéns!
    Abraço!
    Ronaldo

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  3. Valeu, Ronaldo. Também curti muito produzi-la.

    Abraço.

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  4. Muito bacana e enriquecedor esse texto. Parabéns!!
    Gostaria de travar parceria com meu blog?
    http://www.outrasbossas.blogspot.com

    Grande abraço e parabéns!!

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  5. Demais como uma pessoa só pode levar a mudanças tão significativas. Se fala muito em coletividade hoje, no sentido de que grandes mudanças só são possíveis com esforço coletivo. É e não é bem assim. Uma ideia certa, na hora e no lugar certo, mesmo que venha de uma cabeça só, ainda é matadora. Talvez estejam sobrando cabeças e faltando ideias por aí.
    Enfim, do caralho o post, Cadão.

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  6. Valeu Timm. Também adoro essa história, e acho que ela daria um ótimo documentário.

    Abraço.

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  7. Mto show!
    Esse é o tipo de coisa que parecia óbvia na minha cabeça: Todo disco tem uma capa.
    Interessante ver que essa ideia saiu da cabeça de um visionário, que revolucionou a história da arte, criando uma nova categoria...
    muito legal mesmo!
    Parabéns cadão!

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  8. Valeu pelo comentário, Dudu. Adorei fazer a pesquisa e escrever sobre esse assunto, e ele rende até hoje.

    Abraço.

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  9. Alex faleceu no dia 17 de julho:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Alex_Steinweiss

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