Pelo Mundo: as aventuras de um colecionador em Nova York – Parte 1: shows inesquecíveis


Por Fernando Bueno
Engenheiro e Colecionador
Collector´s Room


Fernando Bueno arrumou as malas e saiu em turnê por Nova York, a capital do mundo. É claro que, como colecionador que é e sempre será, Fernando foi conferir as atrações musicais da cidade, e conta pra gente as suas experiências por lá.

Nessa primeira parte, os shows que ele conferiu. E na segunda parte, daqui uns dias, as lojas de discos que Fernando conheceu e degustou em Nova York.

Então, acomode-se na cadeira e boa leitura!

Porcupine Tree – Radio City Music Hall, Nova York, 24/09/2010

Todo mundo que gosta de música já ouviu falar no Radio City Music Hall. A casa de shows faz parte do conjunto do Rockfeller Center em Nova York e existe desde 1932. Tive o privilégio, e a sorte, de conseguir ver um show de um grupo que acho muito legal nesse lugar, e as impressões do local e da banda foram muito boas.

Comprei o ingresso para o show do Porcupine Tree no também famosíssimo Madison Square Garden apenas duas horas antes da apresentação começar. Nesse mesmo dia tinha show do Alice in Chains no MSG e o hall e as bilheterias estavam lotadas. Foi engraçado eu entrar na bilheteria de ingressos de outros shows enquanto a fila da bilheteria para o show do Alice in Chains estava enorme. Até pensei que o Porcupine Tree não teria público para o seu show, afinal não vi ninguém comprando ingressos para vê-los. Porém, ao chegar no Radio City Music Hall percebi que a base de fãs da banda é muito grande lá nos Estados Unidos. Também achei interessante as pessoas chamando umas as outras de “proggers”. O Porcupine Tree faz parte da cena atual do progressivo, mas pelo peso de algumas de suas músicas muitos puristas não os consideram como parte do rock progressivo, coisa que eu discordo.

Outro fato que causou estranheza foi assistir ao show sentado. Já vi o Asia e o Dream Theater assim, mas dessa vez eu me senti estranho. Talvez seja por eu estar sozinho no meio de um monte de gente desconhecida tenha causado essa sensação. O RCMH tem cerca de 6 mil lugares e aos poucos todos eles foram sendo preenchidos, contrariando minha impressão inicial de que não teria público. Fiquei localizado no primeiro mezanino, então consegui ver que as cadeiras da pista estavam completamente lotadas. Porém isso eu já sabia, afinal não tinha conseguido comprar ingresso para sentar nesse local. Mas garanto que mesmo dos mezaninos (ainda tem outros dois níveis) o lugar é muito bom para ver shows.

Eu não sou um profundo conhecedor do Porcupine Tree. Conheço bem dois discos deles, o
Absentia e o Fear of the Blank Planet, e um pouco outros dois, The Sky Moves Sideways e Deadwing. Porém, essa é uma banda que já lançou dez álbuns de estúdio, e pela base de fãs que vi no show percebo que tenho que ir atrás do restante dos álbuns. Ouvi comentários muitos empolgados do pessoal que estava na fila para comprar merchandising e acabei me interessando por outros discos que vou procurar brevemente.

A banda entrou exatamente as 20 hs, no horário marcado. Porém, para surpresa de todos, quando as cortinas subiram mostrou um modesto grupo de equipamentos. Estavam montados apenas um kit de bateria pequeno, um contrabaixo acústico, um piano e uns violões. O grupo entrou e disse que faria uma pequena apresentação acústica antes do show. Ou seja, é a primeira vez que vejo uma banda fazer um show de abertura para ela mesma. Ao todo foram cinco músicas nessa primeira parte do show, totalizando cerca de 40 minutos. Tocaram duas músicas ao vivo pela primeira vez - uma do último álbum e outra de um disco mais antigo. Claro que sei disso por que o Steve Wilson anunciou que o faria, já que não conhecias essas músicas.

A banda saiu e os roadies entraram em ação para montar o palco principal. Montar é modo de dizer, já que estava quase tudo pronto nas laterais e os roadies só tiveram o trabalho de posicionar a bateria (agora bem maior), os teclados e alguns amplificadores. Depois de dez minutos já estava tudo pronto e o grupo volta para fazer seu set normal.


Para quem não conhece, o Porcupine Tree é formado por Steve Wilson (guitarra, voz, teclados, etc, etc, etc), Richard Barbieri (teclados, mellotron e outros), Colin Edwin (baixo) e Gavin Harrison (bateria). Steve Wilson é no Porcupine Tree o que seu xará Steve Harris é no Iron Maiden - ou seja, o dono da banda. Ao vivo eles têm o acompanhamento de outro guitarrista que não sei o nome. Ele até foi apresentado, mas não consegui entender. Procurando na internet consegui encontrar seu nome: John Wesley (guitarras e backing vocals). No entanto, ele toca somente em algumas passagens, ficando a maior parte do tempo escondido atrás dos equipamentos.

A execução das músicas é perfeita. O que o baterista toca não é brincadeira. Apesar de não conhecer todas as músicas do set curti demais, principalmente pelo fato de eles utilizarem muito os artifícios visuais para auxiliar a música. Os telões gigantes de alta resolução tinham imagens que remetiam às letras das músicas, e quando não havia nenhum ligação foram utilizados efeitos luminosos que me lembraram as coisas que o Pink Floyd fazia no começo da carreira. Ou seja, jogos de luzes e cores criando um ambiente meio psicodélico. Peço desculpas pela falta de fotos, no dia estava sem a máquina e só com o celular.

A banda tocou por cerca de mais uma hora e dez e saiu do palco. Como tinha totalizado duas horas de show, incluindo o set acústico, achei que tinha terminado, o que acabou me deixando um pouco decepcionado, afinal só tinham tocado uma música que conhecia (a saber, “The Sky Moves Sideway – Phase One”). Todo mundo ficou esperando pelo famoso bis. Eu aproveitei que o bar era perto e corri para pegar mais uma cerveja (a terceira da noite). Quando voltei eles estavam iniciando outra parte do show e, ao contrário do que pensei, não era um bis e sim um novo set com várias músicas dos álbuns que eu conheço e uma sequência de quatro faixas seguidas de seu disco mais recente. Assim tocaram por mais uma hora e dez minutos.

O que impressionou bastante foi o modo tão certinho como foi o show, afinal suas músicas são cheia de mudanças de andamentos e climas que requerem um esforço físico e mental, além de muita concentração para isso acontecer. Depois de acabado esse set eles ainda fizeram um bis com mais uma música longa, acabando o show às onze e vinte da noite. Ou seja, foram três horas e vinte minutos de show - descontando dez minutos em cada parada foram três horas de música. Isso é muito difícil de ver hoje em dia.

Saí de lá satisfeito, até por ter presenciado um show que mostra que o rock progressivo pode não ter a mesma qualidade hoje em dia do que na década de setenta, mas vemos que algumas bandas levantam a bandeira de forma eficiente, moderna, agradável e, principalmente, com um bom público seguidor.

Accept – B.B. King Blues Club & Grill, Nova York, 29/09/2010

Segunda-feira. Normalmente esse é um dia triste. Início de semana, compromissos, preocupações. Porém, esse é um dia legal para se acordar quando estamos de férias e temos a expectativa de ver ao vivo uma das bandas mais clássicas do heavy metal mundial.

O local do show foi o BB. King Blues Culb & Grill. O local é um bar que também serve como restaurante. É uma espécie de Hard Rock Cafe com bem menos merchandising e com mais ênfase nos shows. O palco é pequeno, com dimensões próximas ao do Manifesto Bar. Aqui cabe um comentário em relação aos dois shows que fui ver. O do Porcupine Tree, com quase seis mil pessoas, e o do Accept, com cerca de 600. Certamente os leitores da
Collector´s Room consideram o Accept uma banda maior do que o Porcupine Tree. Também é certo que no Brasil o show dos alemães teria muito mais público que o dos americanos, mas é interessante saber como anda a popularidade e reconhecimento de algumas bandas fora do Brasil.


Antes do Accept teríamos o trio King’s X. Muita gente foi para vê-los. O número de camisetas da banda era quase o mesmo que o número de camisetas do Accept. Não conhecia nada do grupo, só mesmo as capas dos discos nas revistas, e alguma coisa me interessou. Claro que é difícil julgar uma banda na primeira vez que a escutamos, ainda mais ao vivo, mas tenho que ir atrás de alguma coisa para me familiarizar melhor com o som deles.

Bem, o som do King´s X me lembrou grupos como o Audioslave com mais groove. Apesar de vários sites classificarem eles como heavy metal, e em outros lugares como hard rock e até rock progressivo, achei o som bem distante do metal tradicional. Eles têm peso, riffs, mas mesmo assim não achei heavy. Gostei dos vocais. O baixista e vocalista Doug Pinnick tem uma voz legal que em alguns momentos me lembrou o Glenn Hughes nas partes mais agudas, mas não sei se isso tem a ver mais com o som funkeado de algumas músicas. Na hora eu lembrei dele. Também gostei do trabalho de backing vocals com o guitarrista e o baterista cantando juntos diversas partes das faixas.

Duas músicas me chamaram a atenção, “Pretend” e “Go Tell Somebody”. Essa última é como se fosse um cartão de visitas da banda. O refrão diz: “
If you like what you hear then, go tell somebody”. Ao vivo, com o público cantando, ficou bem legal.


Depois do show do Kings X teríamos o Accept, a banda mais esperada da noite. Claro que a maior dúvida recaia em como ficariam os clássicos com a voz do novo vocalista (novo na banda, por que o cara já ta bem tiozinho - risos). Mas bastou eles entrarem no palco para percebemos que seria um ótimo show, e que Mark Tornillo daria conta do recado.

O set list foi baseado em apenas quatro álbuns:
Breaker com três músicas, Restless and Wild com cinco, Metal Heart com quatro e o novo, Blood of the Nations, com outras quatro. Fora esses discos tivemos apenas “Balls to the Wall” do álbum homônimo e “Bulletproof” do Objection Overruled.

Porém, foram nos clássicos “Balls to the Wall”, “Son of a Bitch” e, principalmente, “Restless and Wild”, que o público foi ao delírio. Mas a curtição da galera é relativa. Os caras não agitam, não fazer air guitar, não pulam, apenas cantam os refrões. Coube a alguns brasileiros que estavam lá fazer tudo isso (risos). Era até engraçado ver os caras nos olhando com uma certa inveja. Afinal, muitos vieram perguntar de onde a gente era e depois do show ficaram conversando com a gente.


Quando estava me vestindo para ir ao show optei por vestir uma camisa da Seleção Brasileira pensando que desse modo alguém viria conversar comigo, afinal ir sozinho a um show é muitas vezes chato pra cacete. Não deu outra. Logo no começo já encontrei alguns brasileiros (inclusive um corintiano com camisa e tudo), e não sei se pelo fato de eu ser o único de amarelo ali ou porque a gente tava agitando bastante acabei ganhando uma palheta no final do show do Hermann Frank direto das mãos dele.

A banda emendava música atrás de música com pouca pausa entre cada uma delas. Os guitarristas Wolf Hoffmann e Hermann Frank e o baixista Peter Baltes não se movimentavam muito. Talvez pelo tamanho limitador do palco, mas dava para ver que os caras estão fazendo tudo com prazer. E novamente tenho que falar do Mark Tornillo. O cara parece que está na banda há décadas. Totalmente à vontade, brincando com os outros componentes, e o que importa, cantando todas as músicas de um jeito que, pelo menos para aquelas pessoas que conversamos, não deu saudades do Udo Dirkschneider.

Resumindo, foi um showzaço. Por ser um lugar pequeno a proximidade do público com a banda deu uma melhor impressão da mesma. Certamente vai fazer com que eu retorne a escutar todos os discos do grupo, a começar pelo último.

No final, queria comprar uma camiseta do Accept, mas os modelos legais já estavam esgotados. Tentei argumentar com um cara que tinha cara de chefe e descobri que ele é como se fosse o gerente de turnê. Conversando com o cara ele me garantiu que o Accept vem para o Brasil por volta de março e abril e vai tocar em Curitiba e São Paulo. Resta saber se dá para confiar ...

Comentários

  1. Que beleza. Ver um show do Porcupine Tree nessas condições deve ser algo realmente maravilhoso.Parabéns, Fernando.

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  2. De onde vc tirou o "Corrêa" no meu nome Cadão? Heheheh....

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  3. Leandro
    Com certeza é algo que vai demorar para se repetir...

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  4. Massa Fernando, muito massa. Aguardando a parte dois!!!

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  5. Mairon, você podia contar as suas aventuras européias também cara, que tal?

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  6. Sabe de uma coisa que acabei não comentando mas é importante? O preços dos ingressos. Para os dois shows os preços foram $40(Porcupine Tree) e $42 para o Accept. Fico imaginando os preços que seriam praticados aqui no Brasil. Tudo bem que a grandeza e o sucesso das bandas são bem diferentes, mas quando lembro que os preços de MEtallica, Bon Jovi e Rush foram da ordem de R$ 600 fico puto...

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  7. Muito bacana as historias, temos até um Furo de reportagem, espero que venha mesmo em abril !

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  8. Jaisson e galera, não percam na próxima semana a segunda parte das aventuras do Fernando em Nova York, dessa vez focando nas lojas de discos que ele visitou e conheceu por lá.

    Abraço.

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  9. Show de bola, realmente Porcupine Tree é "presença" no rock psicodélico. Que sorte pegar um show nesse nipe hein!
    Esse lance dos ingressos realmente é foda ... Brasil é a terra do oportunismo ... aqui é lucro na veia, se a banda tem público sobrando os caras exploram mesmo. Pior que isso, exploram e ainda não te oferecem uma infra a altura. Porra, assistir um show desses sentado e ainda poder buscar uma breja ... quem me dera. Abraços cara!

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  10. Poxa, quando vi o nome B. B. King, quase caio pra trás!!!
    Achei que vc tivesse assistido ao próprio! Deu quase tanta inveja quanto a sua palheta do Steve Howe!
    De qualquer modo, foi bacana o passeio, e eu gostei de ler a matéria apesar de conhecer pouco [Porcupine Tree] ou nada [Accept] das bandas!
    Abraço.

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