Dream Theater: crítica do álbum 'A Dramatic Turn of Events' (2011)


Por Ricardo Seelig

Nota: 9

Mudanças de formação são sempre complicadas. No caso do Dream Theater, a coisa foi ainda mais séria. Com a saída de Mike Portnoy, a banda perdeu não apenas o seu baterista, mas principalmente a força motriz e a mão controladora que conduziram o grupo ao topo do prog metal. Além disso, Portnoy foi o responsável por definir o papel da bateria dentro do metal progressivo, com seus andamentos quebrados, velocidade, precisão, quebras constantes e tempos incomuns sendo adotados como padrão.

Estilisticamente, há uma aproximação maior com o rock progressivo em A Dramatic Turn of Events, ao contrário dos últimos álbuns da banda. Produzido pelo próprio Petrucci, o disco é longo, com quatro de suas nove faixas durando mais de dez minutos. Ou seja: se você não é fã do Dream Theater, não é com esse álbum que você passará a ser. Agora, se você curte o som da banda, prepare-se para ouvir um de seus melhores trabalhos.

Algumas características são bem marcantes em A Dramatic Turn of Events. Em primeiro lugar, nunca houve tanta melodia em um disco do Dream Theater como aqui. Há uma presença maior do teclado de Jordan Rudess, que emerge como a principal força criativa do grupo, ao lado de John Petrucci. O peso dos riffs da guitarra de Petrucci também se destaca. E, fechando, um surpreendente e até então inédito clima épico surge em algumas composições, levando a música do grupo para terrenos inesperados.

Mas o ponto que todos querem saber é como Mike Mangini se integrou ao grupo, certo? A resposta é simples e direta: da melhor forma possível. Dono de uma técnica absurda, o novo baterista do Dream Theater parece fazer parte da banda há tempos, não deixando a falta de Mike Portnoy emergir. Se havia alguma dúvida sobre a capacidade de Mangini em substituir o antigo dono da banda, ela se desfaz ao final da audição.

A Dramatic Turn of Events é um álbum feito sob medida para aqueles fãs que curtem as composições mais instrincadas da carreira do Dream Theater, repletas de longas passagens instrumentais elaboradíssimas. Faixas como “Lost Not Forgotten”, “Bridges in the Sky”, “Outcry” e “Breaking All Illusions” estão repletas de momentos assim. O que se ouve é uma espécie de mistura do que a banda fez nos álbuns Awake e Scenes from a Memory, dois dos pontos mais altos da discografia do quinteto.

Entre as faixas, o maior destaque é a sensacional “Breaking All Illusions”, com status de novo clássico. “Build Me Up, Break Me Down”, com seu início com elementos eletrônicos e uma clara influência do Muse, também chama a atenção. Mas é quando o grupo resolve focar naquilo que sabe e faz como ninguém que o disco cresce assustadoramente. O prog metal puro e do mais alto gabarito é a marca principal de “Lost Not Forgotten”, “Bridges in the Sky” e “Outcry”, além da já citada “Breaking All Illusions”, a melhor do disco. Entre as faixas mais calmas, “This is the Life” é uma prima próxima de “The Spirit Carries On”, e a bela “Beneath the Surface” fecha o álbum com classe e bom gosto.

A saída de Portnoy e a entrada de Mangini mexeram positivamente com o Dream Theater, tirando a banda de sua zona de conforto e levando os músicos a se desafiarem mutuamente. O som do grupo surge renovado em A Dramatic Turn of Events, refrescante como há tempos não soava.

Ao lado de Images and Words (1992), Awake (1994) e Scenes from a Memory (1999), o melhor disco do grupo.


Faixas:
  1. On the Back of Angels
  2. Build Me Up, Break Me Down
  3. Lost Not Forgotten
  4. This is the Life
  5. Bridges in the Sky
  6. Outcry
  7. Far From Heaven
  8. Breaking All Illusions
  9. Beneath the Surface

Comentários

  1. Fico honradíssimo de ser o primeiro a comentar a 'fresquinha' resenha do Ricardo sobre o tão aguardado novo disco do DT. E lendo o texto, ao som de Breaking All Illusions, fico ainda mais ansioso pelo oficial lançamento do material. Bom demais saber que, na opinião do Ricardo, este é um disco renovado e que lança o ouvinte a clássicos como Images and Words, Awake e Scenes from a Memory. Não vejo a hora de comprar o meu, conferir e curtir!

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  4. Excelente álbum! Realmente ele tem um lado mais prog, algo que me agrada muito. Mal posso esperar para poder comprá-lo.

    Espero que ele venham ao Brasil e toquem as músicas do novo álbum. (shows de preferências em dias em que não há vestibular!)

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  5. Tô gostando tambem, tá descendo mais redondo que os últimos deles na primeira audição.
    Estamos falando aqui de uma banda acima da média (com ou sem Portnoy) então não tem como eles fazerem besteira.

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  6. Putz....

    Minha primeira impressão não foi boa não....como disse no outro post...
    pra mim soa tudo bem mediano e no automático.... com algumas passagens inspiradas e outras bem chatas (principalmente os refrões cantadados pelo Labrie e as baladas) ...
    Com certeza ouvirei mais vezes pra ver se a impressão muda
    Abraços

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  7. Alias Cadão...apesar de eu não concordar inicialmente com oque vc escreveu...quero parabenizar vc por mais uma ótima resenha...gosto muito de suas análises....elas não são tecnicistas e nem simplistas...considero que vc atingiu o ponto certo em seus textos...e também concordo com vc que análise detalhadas de cada faixa deixam a resenha muito cansativa...também gosto muito de suas contextualizações...
    um abraço

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  8. Veleu Fábio. É aquilo que eu digo: ninguém precisa concordar com a opinião de um crítico em uma resenha, mas se ela está bem argumentada e bem escrita você ao menos irá respeitar a opinião dele, mesmo que contrária a sua, correto?

    Abraço.

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  9. Não devemos esquecer que foi o Pretucci que escreveu as linhas de bateria!

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