Entrevista exclusiva com Neil, vocalista e guitarrista do Laconist, uma das novas forças do death metal brasileiro


Bati um longo papo com Neil, vocalista e guitarrista do Laconist, uma das melhores bandas de death metal brasileiras, que lançou recentemente o seu primeiro disco, o ótimo Aural Deathblow. Neil falou sobre a história do Laconist, suas influências, crenças e planos futuros.

Confira a nossa conversa e vá atrás do álbum Aural Deathbow, porque ele é excelente!


Neil, tudo bem? Pra começar, conta pra gente um pouco da história do Laconist. Como a banda surgiu?

Olá, caro Ricardo. Gostaria primeiramente de agradecer o espaço cedido ao Laconist na Collector’s Room. Bem, eu e o Alcoholic Death criamos o Laconist em outubro de 2007. Já vínhamos de outras bandas do underground nacional e resolvemos unir forças para tocar um death metal lacônico mesclando partes mais brutais, com uma pegada old school. O pontapé inicial foi quando nos reunimos na casa dele nessa época e ele me mostrou esse vídeo, da banda polonesa Dissenter, como base do nosso direcionamento musical. Era tudo que nós sempre quisemos fazer.

Nosso primeiro baixista foi o Lutus, que atualmente toca no Remords Posthume, e foi sucedido pelo Sarco. Com essa formação fizemos nossa primeira apresentação em março de 2008. Em seguida gravamos nossa primeira demo, Blessed in Chthonic Salvation. No final desse mesmo ano o Felipe Polaris entrou na banda como guitarrista. Nosso primeiro show com esse line-up foi em fevereiro de 2009 com o Sinister (Holanda) na capital paulista. Em 2009 gravamos, com a produção de Ricardo Piccoli, um EP contendo duas músicas chamado Adveniat Infernus, que contém as faixas “Subdogma: God” e “Degenerative Procreation”, que nos rendeu uma aliança com o selo americano Butchered Recods. E com essa formação seguimos fazendo alguns shows e gravamos nosso debut Aural Deathblow, lançado dia 13/09 nos Estados Unidos.

Esse ano tivemos uma modificação significativa no line-up, pois Sarco deixou o Laconist dando lugar a Jeff Kinsley (Remords Posthume), nos deixando extremamente satisfeitos, pois compartilhamos os mesmos objetivos, mostrando-se um membro dedicado. Atualmente estamos ensaiando para tocar e divulgar nosso trabalho no ano vindouro.

Logo no início da banda, em 2008, vocês tocaram com dois dos maiores nomes do metal extremo, o Vader e o Marduk. Como rolaram esses shows e qual foi a repercussão?

Foi a primeira vez que pisamos num palco com o Laconist, então a pressão foi enorme e nem tínhamos material lançado. Foi realmente uma prova de fogo. Nessa ocasião o Marduk não tocou, pois eles perderam o vôo, então só o Vader cumpriu a data. Os amigos do Enterro também participaram de uma noite que veio a ser um dos marcos no underground do interior paulista. Foi um excelente início para nós.

Quais são as principais influências, tanto iniciais quanto atuais, da banda?

As diretrizes iniciais para o Laconist sempre foram inspiradas em uma mescla de todas as bandas que veneramos, tais como Anasarca, Obscenity, Centurian, Lost Soul, Angel Corpse, Deicide, Morbid Angel e afins. Atualmente ouvimos bastante os trabalhos mais recentes do Aeon, Exmortem, Devilish Distance, Benighted, Deivos, Trauma e similares. Essas bandas mantém um nível excelente de produção, técnica e brutalidade.


Vocês acabaram de lançar Aural Deathblow, o primeiro full-lenght da carreira. O disco foi gravado aqui no Brasil, certo?

Sim, fizemos todo o trabalho de captação, mixagem e masterização no Piccoli Estúdio, em Campinas. O Aural Deathblow é resultado do nosso trabalho árduo e dedicação. O resultado final apresentado pelo Ricardo Piccoli nos impressionou bastante, um fato que levou outras bandas de death metal a trabalharem com ele.

Realmente o som do disco impressiona, com uma mixagem e produção de primeira. Na hora de produzir o disco, vocês tinham alguma referência na cabeça de como ele deveria soar?

Sim. Como referência levei quatro CDs para o Ricardo: Immerse in Infinity do Lost Soul, Path of Fire do Aeon, Funeral Phantoms do Exmortem e Death March Fury do Masachist. São trabalhos que primam pela perfeição, e fomos com isso em mente.

Como tem sido a recepção para Aural Deathblow?

Estamos recebendo críticas bem positivas, tanto aqui no Brasil quanto no exterior, algo que só aumenta nossa vontade de nos superar em um trabalho futuro.

Tenho a impressão que vocês são muito mais conhecidos lá fora do que aqui no Brasil. Procede isso? Se sim, porque isso acontece?

Existe uma legião fiel de fãs de música extrema aqui no Brasil, porém muitos deles vivem do que encontram na internet, desencorajando selos a investirem em bandas daqui. Desde o começo eu sempre procurei selos no exterior para divulgar e lançar nosso trabalho. Lá fora ocorrem festivais voltados para o estilo, tais como o Neurotic DeathFest na Holanda, o Mountains of Death na Suíça e DeathFest Open Air e Partysan Open Air, ambos alemães. O Obscente Extreme na República Checa também é dedicado ao estilo. Nos EUA temos o Maryland DeathFest e o Central Illinois Metal Fest. Então é natural que queremos ser mais visíveis em lugares onde o death metal seja levado a sério e não deixado às mínguas, como acontece no Brasil.

E a turnê Aural Deathblow? Onde a banda tocará nas próximas semanas?

Estamos ensaiando com a formação nova. Temos um show confirmado em Belo Horizonte dia 21 de janeiro. Com a demora no lançamento do CD e com a mudança na formação fomos prejudicados nesse ponto. Mas agora, com uma nova formação consolidada, esperamos tocar bastante em 2012 para divulgar nosso trabalho.


O Laconist tem uma postura claramente anti-cristã, que casa perfeitamente com a parte instrumental da banda. De onde vem essa crença?

Até hoje não existiu doutrina mais letal que o cristianismo. A época que se seguiu após a queda do Império Romano, quando a Igreja dominou a Europa, é chamada de Saeculum Obscurum, ou seja, Idade das Trevas. O Brasil infelizmente está infestado com essa doutrina, a para agravar, o estado não é laico. Não existe droga melhor para controlar as massas do que a religião, em um lugar onde a educação é precária e grande parte da população vive atrás de uma enorme cortina de burrice.

Há uma nova onda de bandas que estão trazendo de volta esse lado mais obscuro e sombrio para o heavy metal, cujos principais expoentes são o Ghost e o Devil's Blood. Esses grupos influenciam, de alguma maneira, o som do Laconist?

Essas duas bandas citadas, principalmente o Ghost, resgataram a verdadeira essência do metal, tocando com alma, deixando de lado malabarismos técnicos e firulas desnecessárias. A última banda que havia me prendido tanto a atenção, tornando-se um vício diário, havia sido o Grand Magus com o disco Iron Will, de 2008. Certamente esses discos nos fazem repensar na hora de compor algum riff ou escrever alguma letra. Ouço essas bandas extremamente técnicas, ultra velozes e fico pensando no seguinte: esses caras são exímios músicos, dominam seus instrumentos com uma maestria ímpar, porém só serão lembrados porque conseguem tocar milhares de notas por segundo e não por terem criado um riff que ficou dias na cabeça de um fã, fazendo o mesmo ouvir aquele som constantemente. A música precisa expressar e provocar emoção nas pessoas, senão todo esforço foi em vão.

Neil, na minha opinião o heavy metal brasileiro, pela sua história, tem muito mais a ver com o metal extremo de nomes como Sarcófago, Mutilator, Vulcano e os primeiros discos do Sepultura, do que com o power e metal melódico que tomou conta da cena na última década. As boas bandas brasileiras de death e black metal tem uma sonoridade distinta, que não se encontra em outros lugares do mundo. Pra você, que vive tudo de dentro, é por aí mesmo a coisa?

O death metal brasileiro, assim com o death polonês ou sueco, tem sua própria característica. O Brasil é o grande responsável pela proliferação da desgraça sonora mundo afora, principalmente com o Sepultura nos primórdios e as bandas citadas acima. Sinto por bandas como Nephasth e Rebaelliun não existirem mais, pois, assim como o Krisiun, eram a personificação do death metal drasileiro.



Vou pedir a sua opinião sobre algumas bandas, e gostaria que você falasse o que acha delas, ok? Pra começar, qual a sua opinião a respeito do Krisiun?

Sou suspeito para falar de Krisiun, pois foi o primeiro show de metal que eu vi na minha vida em 1997, na tour do Black Force Domain, e depois de ver o Moysés tocar naquela época, me comprometi a tocar também. O Krisiun é uma grande influência não só como excelentes músicos, mas também como excelentes pessoas. Mesmo depois de conquistarem os palcos mundo afora nunca se deixaram levar, mostrando-se sempre humildes perante outras bandas e atenciosos com os fãs. São um exemplo a ser seguido.

E o último disco do Morbid Angel?

Qual fã ferrenho de death metal aprovou tamanha mácula na discografia de um ícone? Só não podemos tirar o crédito, pois as mesmas mãos que fizeram Illud Divinum Insanus também conceberam Altars of Madness, Blessed Are the Sick e Covenant. Então, se eles estiverem com as faculdades mentais em plena consciência, lançarão um sucessor digno.

Behemoth.

Estão longe de ser a minha banda favorita na Polônia, que é um antro inexpiável de bandas. Respeito muito o trabalho do Nergal, embora eu ache overrated. E fiquei muito feliz em saber que ele superou o câncer.

Deicide.

Glen Benton é uma entidade. Sempre será minha banda americana favorita. O Steve Ashein foi um dos únicos bateristas que acompanhou os Tony Laureanos e Derek Roddys que apareceram na cena posteriormente. Ao contrário de Paul Mazurkiewicz do Cannibal Corpse, que faz a mesma coisa desde 1988.

Dimmu Borgir.

Não sei como definir o som desses caras, é qualquer coisa menos black metal. Quando eu conheci essa banda na época do Enthrone Darkness Triumphant, talvez fosse. Mas, particularmente, acho o Chrome Division mais black metal que essa porra. Quando penso em black metal, na condição de fã de música extrema, o que vem à cabeça são nomes como Infernal War, Massemord, Dark Funeral. Dimmu Borgir não passa nem perto!



Falta espaço para as bandas de metal extremo na mídia brasileira?

Sempre faltou. Vejo uma luz no fim do túnel com o Júlio Feriato e o Heavy Nation. É uma iniciativa muito boa em um veículo de comunicação conhecido. Mas falta muito apoio e investimento em festivais voltados para o estilo. Muitas bandas ainda não tocaram aqui, e o que temos visto ano após ano são sempre as mesmas bandas internacionais tocando em condições dignas, e as bandas nacionais precisando vender ingresso para poder abrir esses shows. Até quando?

Quais são os seus cinco discos preferidos, Neil?

É difícil listar, porém os discos que nunca saem do Mp3 são:

Centurian – Choronzonic Chaos Gods
Angel Corpse – The Inexorable
Lost Soul – Chaostream
Grand Magus – Iron Will
Ghost – Opus Eponymous

Cara, obrigado pela entrevista, e espero, sinceramente, que você e o Laconist alcancem o reconhecimento que merecem, porque o trabalho da banda é espetacular. Pra fechar, pra onde o som da banda irá nos próximos anos? O que os fãs podem esperar do Laconist daqui pra frente?

Ricardo, muito obrigado pelo espaço cedido e pelas ótimas perguntas. Somos muito gratos pelas palavras encorajadoras. Queremos lançar cada vez discos mais extremos, e já estamos trabalhando nisso. Nosso objetivo para o próximo ano é tocar bastante e compor um trabalho à altura com essa experiência adquirida. All hails for the beast!

Comentários

  1. Putz, eu estava nesse show que eles abriram pro Vader! Inesquecível! Longa vida à Laconist, ao Collector's Room e ao underground!

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