Os melhores discos de 2011 por Sergio Martins, da Veja



Para mim, Sergio Martins, além de ser um dos melhores críticos de música do Brasil, é uma espécie de professor. Aprendo muito com ele, tiro minhas dúvidas e ouço sempre com atenção o que o Sergio, um cara pra lá de gente boa e uma verdadeira enciclopédia musical, tem a me dizer. 


Por tudo isso, sempre fico na expectativa para receber a sua lista de melhores do ano e publicá-la aqui, para vocês. Sons de primeira, dos mais variados gêneros: é isso que você vai encontrar na listinha do Sergio. Então, acomode-se na cadeira, leia com atenção e comente!


Jay-Z e Kanye West – Watch the Throne


Vamos deixar de ter preconceito em relação ao rap? Para quem deseja abrir seus horizontes musicais, este disco é uma excelente pedida. Ele traz dois dos maiores artistas e produtores do gênero (para dar uma situada, ele seria como um encontro de Mick Jagger e John Lennon nos anos 60 e Jimmy Page e David Bowie na década de 70) para produzir um punhado de novas canções. Watch the Throne é um projeto megalomaníaco – sim, a todo instante Jay–Z e Kanye West falam de como são ricos e bem-sucedidos -, mas também traz ótimas ideias musicais. Para muita gente, rap não é música, apenas um punhado de canções roubadas de terceiros. Nem sempre é assim. Às vezes, uma batida ou um sampler (por exemplo, Otis Redding, matéria prima para “Otis”) se torna uma canção diferente, com batida e groove diferentes. E mesmo trabalhando em cimas de batidas e melodias alheias, eles são capazes de criar ótimas músicas. Faça o teste, confira “Lift Off”, com vocais de Beyoncé; “New Day”, que traz a voz de Nina Simone distorcida pelo auto-tune, e “Made in America”, com o soulman Frank Ocean.


Tedeschi Trucks Band – Revelator


Outra banda que tive o prazer de assistir ao vivo e outra banda que me deixou embasbacado. A Tedeschi Trucks Band é composta por Susan Tedeschi, guitarrista e vocalista, e seu marido, o guitarrista Derek Trucks. É injusto classifica-los apenas como “southern rock” porque ali vai de tudo um pouco: hard rock, blues, soul e, obviamente, southern rock. Revelator é o primeiro disco do casal, que anteriormente tinha uma boa carreira solo. “Midnight in Harlem”, com certeza, está entre as melhores canções que escutei este ano! 


Celso Fonseca e Ronaldo Bastos – Liebe Paradiso


Muito se fala sobre a produção atual de música popular brasileira. Elogia-se a quantidades de discos lançados no mercado independente, o surgimento de novas cantoras e de gênios da composição... Para ser sincero, são raros os discos que me deixaram feliz. Este é um deles. Liebe Paradiso é uma versão remoçada de Paradiso, disco que Celso Fonseca e Ronaldo Bastos lançaram em 1997. Mas não se trata de preguiça criativa, não. Eles pegaram os arranjos e gravações originais, adicionaram novos instrumentos, vocalistas... Liebe tem de ser ouvido no mínimo umas dez vezes e no fone de ouvido, porque cada audição revela um novo detalhe. Há momentos sublimes, como a interpretação de Nana Caymmi em “Flor da Noite”, Paulo Miklos e sua ironia roqueira em “Você Não Sacou”, as vozes impregnadas de soul de Luiz Melodia e Sandra de Sá em “Ela Vai Pro Mar” e “Polaróides”. Discaço!


The Decemberists – The King is Dead


Eu os assisti em janeiro de 2011 no Beacon Theatre, em Nova York. Fiquei tão espantado com a qualidade do espetáculo que fui ao balcãozinho montado em frente à loja e adquiri a coleção inteira do grupo. O Decemberists professa um tipo de música que eu gosto: não é hard rock, muito menos tem suas raízes fincadas no blues, mas por outro lado tem fortes influências de música folk e do rock alternativo dos anos 1980 – em especial o R.E.M., com quem eles são frequentemente comparados. The King is Dead é o sexto e até agora o melhor disco deles: tem baladas como “January Hymn”, rockão para chacoalhar a cabeça e gritar o refrão bem alto (“Down By the Water”) e uma canção com viés político, mas cuja letra passa longe do panfletarismo (“This is Why We Fight”).


The Black Keys – El Camino


Tem disco que pega a gente aos 45 minutos do segundo tempo, né? El Camino, do duo americano The Black Keys, é um deles. Roubou o lugar que era ocupado anteriormente pelo Metals, da Feist. Seguinte: o Black Keys é formado por Dan Auerbach (guitarra e vocais) e Patrick Carney (bateria). A princípio, eles faziam um blues sujo e sem muito retoque. Em 2008, se associaram ao produtor Danger Mouse (o mesmo dos Gorillaz e autor de Rome, outro belíssimo disco de 2011, todo inspirado em trilhas italianas). El Camino é puxado por “Lonely Boy”, faixa que tem uma guitarra meio rockabilly, mas traz outras belezas como “Little Black Submarines” – que lembra muito Led Zeppelin, apesar do Auerbach dizer que não está entre seus grupos prediletos – e as pops “Nova Baby” e “Stop Stop”. Sabe aquele disco de rock que até sua namorada não-roqueira vai gostar? El Camino é este CD. 


Adele – 21


Tinha tomado o conhecimento dessa cantora no Jools Holland. Ela estava lançando seu disco de estreia, 19, e fiquei encantado com aquele vozeirão dedilhando um soul acústico. 21 é mais do que um disco bem produzido de uma grande voz. 21 é mais do que uma compilação do que existe de melhor no pop/soul/balada/música de fossa. 21 bateu recordes de vendagem no Reino Unido e na Inglaterra e Adele fez história na parada americana ao se tornar a artista do ano pela revista Billboard, com o disco e o single mais vendidos do ano. Uma prova que o talento e a boa música resiste à pirataria, ao download ilegal e o diabo a quatro. 


Tomada – O Inevitável


É fato que nunca surgiram tantos artistas independentes como nos últimos dois anos. Mas também é fato que 90% dessa turma tem um discurso político/cultural/social na ponta da língua feito para mascar a falta de musicalidade e justificar sua presença nos principais festivais ditos “alternativos” do país. Nesse cenário desolador, o Tomada, para mim, é um alívio. O grupo faz rock dos bons, com um pé nos anos 1970 e outro na música popular brasileira; tem bons músicos, um vocalista que sabe gritar na hora certa. Isso sem falar que “Ela Não Tem Medo” é radiofônica até a medula.


Mastodon – The Hunter


Anos atrás, Ben Ratliff, do New York Times, escreveu um artigo apaixonado sobre o Mastodon. Comparou as improvisações e quebras de harmonia do álbum Leviathan com as de uma boa banda de jazz. Como sou fã do Ratliff comprei o disco na hora e desde então espero cada lançamento do Mastodon com uma ansiedade doentia. The Hunter é um dos melhores discos dessa turma, e certamente um dos mais acessíveis. Ele tem tudo o que eu gosto no Mastodon: peso, letras inspiradas em ficção científica e filmes de terror, uma quebradeira dos infernos. Por outro lado, o grupo conseguiu criar melodias para conquistar as rádios, que costumam torcer o nariz para o rock pesado. “Curl of the Burl” é um musicão, e a faixa-título tem ecos de Pink Floyd. Longa vida ao Mastodon!


Booker T. Jones - The Road From Memphis


Rapaz, como pude esquecer deste disco? Booker T. Jones é lenda da Stax, fez uma apresentação memorável na Virada Cultural (São Paulo) anos atrás, que nem o péssimo sistema de som atrapalhou. Este disco traz o tecladista ao lado de um monte de colaboradores de alta patente, como a cantora Sharon Jones, Lou Reed (sem a esquisitice de Lulu, com o Metallica), Sharon Jones ... E há pelo menos duas grandes releituras: “Crazy”, de Gnarls Barkley, e “Everything is Everything”, de Lauryn Hill.


Madame Saatan – Peixe Homem


Faz uns quatro anos que conheço essa banda de Belém. Eles certamente fazem um dos shows de rock mais animados do país, com uma vocalista (Sammliz) endiabrada, uma poderosa seção rítmica (Ícaro Suzuki no baixo e o Ivan Vanzar na bateria) e um guitarrista de responsa (Ed Guerreiro). Peixe Homem é o segundo disco deles e tem uma produção esmerada (de Paulo Anhaia), que valorizou as qualidades do quarteto. É um dos discos mais bem gravados que escutei e há uma porção de canções que eu gosto, como “Respira” e “A Foice”.

Comentários

  1. Sinceramente, esse disco do Kanye West e Jay Z é muito sem graça... não entendo por quê está sendo tão exaltado.

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  2. Ricardo, já penso o oposto. Achei um discaço, que chega a viciar, mas que não está sendo bem visto nas listas de fim de ano. Não chega a ser o número 1, mas é um discão.

    E não gosto do Madame Saatan. Acho muito forçado o vocal da Sanliz.

    Tinha perguntado os melhores discos do ano pro Sérgio Martins pelo Twitter, ele me falou alguns outros nomes que valem a pena correr atrás. Não lembro de todos, mas estavam nomes como Bixiga 70 e Fábio Góes.

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  3. Madame Saatan é uma banda fantastica, uma banda original e com uma vocalista que canta pra caralho, os musicos são todos foda, por isso que a banda é tão foda assim. Soou fanzona dessa banda e sim, essa banda tem um dos show mais animados do pais ! O disco peixe homem tá maravilhoso, sensacional ! Parabéns ao Madame Saatan, forever ♥ ! :)

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